Simplicidade
"A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não copiar sua aparência". (Aristóteles)
Não havia nehuma razão aparente para existir. Simplesmente existe. No entanto, todos desejam saber: por que existe? Todas as artes, ciências e filosofias se prestam a tal serviço. Como realizam? Ora, curiosamente criando universos para explicar o universo que já existe. Paradoxal? Embora paradoxos sempre sejam atraentes porque a complexidade nos atrai - e assim o é tanto que nossa estética sempre é movida nesse sentido: de hipnotizar o espectador, fazê-lo escravo de suas próprias propensões de ser induzido por outrem - , nem sempre o que é convencionalmente belo é assim categorizado. Vejam: o fogo, por exemplo, é algo belo. Suas cores são douradas e vermelhas, a forma como se movimenta é livre e sedutora como o vento - senão mais, porque o vento é incolor, sem alma e sem coração, embora nos transmita a sensação de liberdade que tanto aspiramos ao desejar voar - ; mas, apesar de tudo, o fogo destrói, ele queima e ceifa, é uma das várias facetas da Morte, aquela senhora que nos espera, sabe-se se namorando ou casada com Caronte, do outro lado do Aqueronte. Enfim, o fogo é uma contradição ambulante que nós, na condição de civilizados - que pintam e controem maravilhosas, mas ainda mata e deixa morrer seus semelhantes - , transformamos em instrumento de nossas "confortáveis" existências. E, curiosamente, somos iguais ao fogo: somos uma contradição e metamoforse ambulantes, numa deliciosa amizade, a muitos risos lá no Hades - juram alguns poltergeists por aí, sabe-se lá se mentindo ou não, e também alguns dotados das mesmas qualidades de Er - entre Heráclito de Éfeso e Raul Seixas: homo homini lupus que se matam virando bon sauvages.
Ora, o que isso tudo parece demonstrar? Caminhamos de contradições a paradoxos? Categorizar algo requer recordar o paradoxo do conhecimento: como alguém poderia dizer que sabe 99% de tudo se ele não chegou a esse tudo? Somente poderia saber que chegou a 99% de tudo se chegou a tudo, pois sabendo os 100% ele poderia comparar seu conhecimento de tudo com o 99% e finalmente chegar a conclusão real de que sabe 99% de tudo. No entanto, ele não pode classificar nenhuma porcentagem com segurança de tudo sem antes chegar ao absoluto do tudo. Logo, ele não pode dizer que chegou a 99% de tudo antes do absoluto do tudo. É tudo ou nada, amadas pessoas.
Sendo assim, Sócrates bem dizia: "só sei que nada sei". Todo nosso conhecimento é contraditório enquanto somente conhecimento; conhecimento e saber têm distinção. Aquele que sabe é porque detém a totalidade das informações sobre o todo; o conhecimento, por sua vez, é a percepção da realidade, e não necessariamente a compreensão do todo a respeito da mesma. Se alguém se confunde a tal respeito pode ter certeza que a maiêutica é impiedosa: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E desta vez não haverá cicuta - mesmo porque alguém já disse que a História se repete de duas formas: a primeira como uma farsa, a segunda como uma tragédia.
O verdadeiro artista é um cientista: ele tem empatia pela realidade e a transmite em seus escritos a forma bela como a realidade se dinamiza. Por isso a poesia, dizia um mestre grego, é a suprema ciência: enquanto a História visa compreender os homens, a poesia traduz a harmonia do universo. Ora, é o observador universal, contemporaneamente falando, assumindo o imperativo categórico.
Acordai, ó crianças, o dia está belo! O céu limpo que traduz novas aventuras e caminhadas! Embarquemos numa peripatética de novas observações!
Não procurem sentir as coisas pela imaginação, mas pelo que elas são: mesmo uma pedra merece justiça de ser reconhecida tal como ela se mostra. Sintam os pés caminhando as gramas verdejantes, e assim indo até o morro dos ventos uivantes. Cuidado com o cemitério maldito: ali imperam as superstições, os preconceitos e os mitos; é o nosso passado enquanto ignorantes; é o nosso museu enquanto buscamos conhecimento; é o Inferno onde, em seu portal, diz para abandonarmos toda esperança, pois criar expectativas nos cegam do que é concreto: é desejar no desespero, perdidos no deserto e vendo uma miragem, que aquilo seja verdade e levar a boca um gole de areia. Sim, terribles enfants!, sejam livres para experimentar; no entanto, já dizia um comediante - e prestai atenção a eles: todos os que enxergam contradições com humor merecem nossa atenção, pois trazem a nós tanto a potência de rirmos de nós mesmos como de voltarmos os olhos em todos os sentidos - : "Todos os fungos são comestíveis; alguns somente uma vez".
Quer compreender a tudo? Capture o infinito pois este, sendo absoluto, nada está além dele. É o grão de areia que sobrou de Fantasia! É a mão de Buda que o macaco jurou superar! A realidade é imanente, não transcendente. Se isso traz algum desapontamento, não se preocupe: podes transcendenter a ignorância e se fazer absoluto.
Postado por Val às 02:23
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