quarta-feira, 22 de julho de 2009

Rumo Perdido



"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela".

"Não desças os degraus do sonho. Para não despertar os monstros. Não subas aos sotãos - onde os deuses, por trás das suas máscaras, ocultam o próprio enigma. O mistério está é na tua vida. E é um sonho louco este nosso mundo...".

Ele se sentia como um planeta. Girando, andando, rodando, transeunte, andante, estonteante. Antes.

Era como um fantasma, e não sabia se estava morto ou vivo. Aliás, tampouco sabia o que significava estar e ser morto ou vivo. Jamais pensara em ser um arqueólogo. Sempre antes. Passado.

O sentido das palavras e das coisas. Arqueologia das palavras e das coisas. Em busca do tempo perdido. Não sabia o que eram palavras ou coisas.

Um pensador grego dizia que recordar é viver. Que fomos ao Hades e esquecemos de tudo ao reencarnarmos. Uma brincadeira infernal esta, pois parecia que o ser humano desejava ser Caronte. O oitavo oceano era a própria humanidade, e este formado por tanto Estinges quanto pessoas, e as pessoas eram Carontes. Procuravam embarcar a todos em seus barcos, o que era uma contradição, exceto que esses rios formavam um oceano, e os barcos, entrelaçados, formavam um só. A dúvida era entre quem seria Caronte e seguraria o timão.

Não, ele jamais desejara ser Caronte. Não tinha ódio ou amor por nada. Não desejava ser adjetivo, apenas a ele mesmo. "Navegar é preciso, viver não é preciso".

Duas conseqüências:

1) "Navegar é necessário, viver não é necessário".
2) "Navegar é preciso, viver não é preciso". Precisão. "Navegar é exato, viver não é exato". Navegar sempre foi associado a algo matemático.

Hoje o navegador tem a sua disposição, além das tradicionais carta de navegação e bússola, GPS, sistema computadorizado de metereologia, além de outros arsenais tecnológicos. Mesmo a navegação como teoria teve avanços: hoje se sabe que existem ondas que fogem ao padrão, e sua dinâmica se aplica perfeitamente a parte da física quântica; oceanógrafos, meteorologistas, engenheiros, cada qual aplicando esse conhecimento a parte que lhe cabe esse latifúndio. E mesmo em tempos das grandes descobertas havia alguma matemática aliada ao sextante: navega-se hoje com satélites, ontem com estrelas. Os poetas sentem saudades.

E o que é viver? Os antigos costumavam ir aos oceanos apenas com o barco e os remos, e navegavam na costa. Tinham medo, o oceano podia ser bem traiçoeiro. Eram demônios. Caronte tinha medo do rio? Ele sabia onde ficavam as suas margens; no oceano seria diferente. A humanidade temia a si mesma, infernal quanto ele próprio. Medo e raiva. Traduzidos em ódio.

Seres mitológicos circunavegavam na mente dos incautos. Nunca chegaram a ver o perigo, mas diziam para si mesmos que havia, e mesmo competiam perigos uns contra os outros para provar que existia. No entanto, o mar sempre fora calmo. Sempre.

Ele tinha medo e raiva, mas não ódio. O ódio é essencial, procura eliminar o sujeito odiado; a raiva despreza qualidades, adjetivos, mas não o substancial. Tinha ele o desejo de que quando alguém escrevesse, pronunciasse ou ouvisse a palavra pedra esta automaticamente se transformasse numa pedra. Não haveriam mitos. Um substantivo seria de fato substantivo, pois teria a sua substância.

Estava cansado. Não queria mais aquilo.

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Uns dizem que é a estátua de Rodin.
Outros, que é um sábio morando nas montanhas da China comemorando suas algumas centenas de anos.

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