sexta-feira, 17 de julho de 2009

Domingo, 18 de Janeiro de 2009
Il Sacrifitio: Uma redundância além de si*



Um rosto sorri; outro chora; outro encontra-se sereno e calmo; outrem, frio; ali, nervoso. Poderia citar n rostos, n olhares, que demonstrariam ações de dado momento que jamais poderiam ser analisadas em descompasso, em separado, sem que fosse um simplismo, exceto se a pessoa fosse monossilábica ou oxítona, hipótese rara mais digna de ser olhada e dissecada em seu mínimo detalhe; pessoas são geralmente paroxítonas ou proparoxítonas, pois revelam uma quantidade de dados talvez até frustrante a quem pensa deter sua crítica durante toda uma vida; e aqueles rostos, podem ser descritos como aqui e lá, e seu contrário, e tudo junto, o que parece uma tela cheia duma paradoxal frenesi a que chamamos de Universo - é isso, Einstein e/ou Freud? - ; mas continuamos humanos, não?

Sim, continuamos a caminhar perante isso ou aquilo que chamamos de humanidade; somos todos e eles nós, eu sou você e você eu, eu sou ninguém e ninguém são todos; peças de xadrez espalhadas alietoriamente, coisificação de seres rápida e eficaz pro grande abatedouro ou expressão de cada ente como criatura inter-ligada a realidade? Coisa é coisa; um abajur é uma coisa, o sol idem, a carne também, e todos provém a vida; o que faz justamente a vida humana ser mais especial que outras, se tudo é nada e vice-versa? Ainda: se só a carne pode ter independência, como fosse superior? Átomos são átomos: um abajur decomposto pode virar uma flor ou carne; continua a teia. Cada partícula de átomo troca energia; uma rede tecida? Raciocínio é instinto? Se for, então animais e homem são uma coisa só, e a rede prevalece; senão, continua a ligação, pois donde é dito que os animais não alcançarão? Homem, romântico são os cegos da mente; desejam ser especiais, mas tal condição deprecia todo o Universo; tudo é especial?

Não, eu nego; eu sei o que é o real, eu vivo para comer a carne, meu medo é o não-hedonismo; sou a larva que devora a ti quando padeces; devoro a tua carcaça e encho minha boca dum sangue viscoso, escarro, entranhas - "boa carne, boa comida, bom deus, vamos comer!". Isso é real, tangível: o teu soldo é a minha refeição, te acorrento pelo destino: nesta terra, ficarás a cova onde descansará dum trabalho inútil - não, bem útil, amaciou minha deliciosa refeição. Chama-me de Lúcifer, senhor da luz, ou de Deus, o senhor anonimado, ou mesmo de medo, senhor Freud diz ser a peculiaridade dos traumas da humanidade, e que continuo a ser todos: sou o mito que criaste e que consumiu sua fé, suas esperanças, e deveras conheço o tangível, pois enche minha sede e torna-se real. Que gostosa realeza sou: abatem por mim e em mim viram filé.

Talvez eu saiba o que seja real; talvez não. Sou a História, sou o Homem que age criando as circunstâncias; como começou? Talvez eu saiba, talvez não, mas o fato é que sei como poderia terminar e, disso, se originar a realidade: que nada sabemos; se dissesse o contrário, olharia os rostos e já diria que todos os rostos são criaturas divinas, completamente independentes: isso faria na mente uma ilusão que consumiria minha carne, e de todos os meus semelhantes, inclusive aos ligados pela matéria. Não, a violência não é o caminho, a corrente da escravidão precisa ser rompida pelo auto-conhecimento; chega de arrogância ou humildade: sou o que sou! É preciso afirmar! A ignorância cria perigosas miragens, areias que dissovem multidões e exércitos embaixo de suas pesadas tempestades: conhece o terreno? És o terreno: consuma-te ou desperta-te. Sou a pirâmide e você quem a construiu: decrifra-me ou devoro-te.

Abrir os olhos; "mas o sono é uma delícia, e estarei pecando se disperdiçar tamanho manjar"; "enquanto adormeces, a cada segundo sua carne é minha"; "desperta ou não mais acordará; suas miragens se tornarão reais e serás sugados por elas - tragarás a ti mesmo, e levarás contigo toda humanidade".

Decida ou decidam, ó mônada(s)!

* Texto de 2003.

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