sábado, 18 de julho de 2009

Esperança: serenidade



“A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões”.

O perfume do café era o seu incenso. O sorvia lentamente, como se pudesse sentir cada gota do líquido escorrendo por suas profundezas, e em cada partícula conseguisse encontrar a alma de cada grão das frutas colhidas. Era o aroma do campo, da noite, do café, da torta de limão, dos livros queimando, de si mesma ...

“Estou cansado de viver na minha terra natal,
Pensativo nas vastidões de trigo negro,
A minha cabana vou abandonar
E partirei como vagabundo e ladrão”

... que juntavalsavam...

“Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...”

... que cantavam...

“Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia”

Enfim.

Observando a relva calma, que mexia sob o peso de vagalumes e brisa, cortava com delicadeza pequeninos pedaços da torta e sentia no peso do garfo o recheio consistente, metido em agradável massa, formando seu próprio universo. Lembrava dos agradáveis finais de tarde, quando ou gostava de caminhar ou cozinhar, quando não as duas coisas juntas numa tremenda proeza de colher alguns dos ingredientes direto da sua horta cultivada no grande jardim que mantinha ao fundo de sua casa, florestapomar o mar de amar, fazia as suas conforme suas inclinações como tivesse ainda sob o guidão de sua bicicleta vermelha a navecavalgar, as mãos tocando macias e tranqüilas sobre a massa paciente, ambas desejando o carinho uma da outra...


Cada pedaço levado a boca
Uma lembrança
Cada pedaço levado a boca
Uma comilança

Lambia os beiços
Tomava o café
Tragava os livros

Sentia os beijos
Um toque de fé
Brios

Misturava a massa, sentindo sua agradável consistência entre os dedos, e levava a fôrma. Base. Alicerce.


“Massa:

1 xícara de trigo
1 ovo batido
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó
100 g margarina”

Preparava o néctar de sua flor, sentindo o liberar de odores dos limões sendo raspados e sendo misturados ao leite condensado. Azedo e doce. Passado e futuro.

“Recheio:

2 latas de leite condensado
Suco de 7 limões
Raspas de limão
1/2 pacotinho de gelatina sem sabor dissolvido em banho-maria
Cobertura:
4 claras batidas em neve
4 colheres de açúcar

Misturar todos os ingredientes e colocar na geladeira, enquanto, a massa assa e você bate o suspiro”

Havia esquentado. Inverno. “E que tudo o mais vá pro inferno”.

“Modo de preparo:

1. Massa: misturar tudo até ficar homogênea, abrir com as mãos em uma forma com fundo removível, forrar o fundo e as laterais
2. Assar em forno pré-aquecido
3. Por uns 20 minutos até dourar levemente”

Com carinho e esmero casavam: fermentado calor. Com esperança e amor esfriavam: acalentado torpor. Com paciência e perfeição assentavam: delicioso sabor.

“Cobertura:

1. Depois da massa esfriar, colocar o recheio, o suspiro e raspinhas de limão
2. Colocar no forno rapidamente para dourar um pouco o suspiro, (gratinar)
3. Leve para gelar”

O café.

Causava-lhe imenso prazer ter conseguido plantar café. Havia, recentemente, conseguido uma máquina de café expresso. Quis, assim, experimentar todo o processo, não sonhar pela metade: encarnou a fantasia e se sentia uma camponesa, e tocar os grãos, observá-los secar calmamente naquelas manhãs e tardes de sol, tudo isso era vivenciar um grande teatro, o mundo era seu palco, e talvez o amargo da bebida pronta a fizesse lembrar o gosto da humanidade.

“As máquinas de café expresso devem permitir a operação com pressão de 9 atmosferas (atm) e temperatura de 90º C, num tempo que varia de 25 a 30 segundos. Estas são condições ideais para a obtenção de um café expresso excelente”.

Entre pessoas existem boas conversas e abraços, entre cafés existem açúcares. E todos se tornam melhores. Como dizia a avó, tudo está no tempero.

“O café expresso é concentrado - 7 gramas de pó para até 50ml de água - de aroma e sabor intensos com um bom corpo e persistência no paladar, coberto por um denso creme cor de avelã (marrom claro) em toda superfície da xícara, cuja espessura deve estar entre 3mm e 4mm”.

A maturidade está na justa medida.

“A primeira providência para o café expresso perfeito é encontrar a moagem ideal do pó”.

No necessário.

“50 ml de água (expresso normal);
30 ml de água (curto)
7 gramas de café
90ºC de temperatura para a água
9 bar de pressão para a máquina do café expresso
30 segundos de tempo para de infusão da bebida

O creme deve ser consistente - ao consumir a bebida o creme fica grudado na parede da xícara. A sua cor deve ser bege escura.


O creme serve para manter a temperatura da bebida e preservar seu aroma. Mesmo que a pessoa não adicione açúcar ou adoçante, o café deve ser mexido para que seus aromas possam ser sentidos”.

E era quente como o carinho de uma mão deslizando feliz sobre a face.

“O creme espesso e duradouro é o sinal mais importante de que o café expresso foi bem tirado”.

Como estar sobre nuvens.
Cat Stevens.
Don’t be shy.

E havia paz.

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