Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009
Coragem
...e ela corria. Loucamente. Não sentia nem mais seu próprio fôlego. Era um cadáver e, não tendo respiração, poderia correr infinitamente sem cansar. Filípides ficaria com inveja, embora não desejasse necessitar ir ao Hades por muito menos.
Ela sabia que eles estavam ali, mas não em que lugar exatamente. Estava quente. Seus cabelos não paravam, e constantemente mexia neles num esforço inútil - o que, talvez, não fosse a única coisa dispensável.
Reconhecia o lugar porque havia avistado nos sonhos de alguém. Não sabia dizer quem, mas sabia que eram os de outra pessoa.
Sua lembrança era de que o lugar era dividido em três, e cada um deles tinha nove círculos. Estes, por sua vez, tinham cada qual o seu Verbo. Procurava o Um.
Não dispondo ela de tempo para uma apologética, seguiu. E o abismo olhava para ela.
Haviam muitos ali. Observavam. E nada mais.
Se ela pudesse dispor de si mesma...
...pressa, depressa. Voava.
A frente, um sorriso.
Apenas.
A ampulheta secava.
Gargalhadas.
Finalmente sentou.
Veni.
Vidi.
Stelle.
Vici?
Gritou “27”.
A “plenos pulmões”.
“Vivendo sob o fogo”.
Russos.
E a coisa estava ruça.
Mal notou ela que eles estavam o tempo todo a acompanhando.
Que seguravam o seu tempo.
E lhe deram um novo tempo.
Já não era sem tempo.
Quebraram a ampulheta como quem quebra um copo depois da vodka.
Nunca houvera tempo para ter tempo.
Não havia vida para quem tinha tempo.
É necessário o infinito para haver vida.
E ela não se sentava.
Sorriu.
Postado por Val às 21:27
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