Michelle - The Beatles
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Apenas.
“Nossa visão do terapeuta é que ele é semelhante àquilo que o químico chama de catalisador, um ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira não poderia ocorrer. Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas das substâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a ser formado com sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um processo, e há alguns processos que, uma vez iniciados, são automantenedores e autocatalíticos. Admitimos ser este o caso da terapia. O que o médico põe a funcionar, o paciente continua sozinho. O “caso bem-sucedido”, não é uma “cura” no sentido de um produto acabado, mas uma pessoa que sabe que possui ferramentas e equipamento para lidar com os problemas à medida que estes surjam. Ele ganhou espaço para trabalhar, sem ser estorvado pelas bugigangas acumuladas de transações iniciadas mas não acabadas.
Em casos tratados sob esta formulação, o critério do progresso terapêutico cessa de ser uma questão de debate. Não é uma questão de “aceitação social” aumentada ou melhores “relações interpessoais”, vistos através dos olhos de uma autoridade estranha e autoconstituída, porém a própria tomada de consciência por parte do paciente de sua vitalidade elevada e modo de funcionar mais efetivo. Embora os outros possam também notar a mudança, a opinião favorável deles a respeito do que aconteceu não é o teste para a terapia”.
Era uma madrugada de chuva, e ele caminhava. Um certa dia de algum ano, mas era de fato um dia e um ano; são tantos dias e anos não vividos, dias e anos que não chegam a ser segundos, e quando a pessoa toma consciência para sua mente correram tempos praticamente nanos, enquanto o corpo, certamente, pode ser considerado objeto de estudo da paleontologia.
Enfim, era um dia e um ano.
E que tempo! Já não era sem! Parecia inclusive que havia rejuvenescido completamente, sendo uma criança que acabou de aprender a andar, pois cada passo seu era dado com tanto esmero e, no entanto, não tinha o mínimo cuidado em mente; aliás, nada tinha em mente, simplesmente gostava de si mesmo e o fazia.
“Pensar é ensaiar. Quem sabe faz sem pensar”.
A cidade toda dormia. Sempre dormia. Eram sonâmbulos desde sempre: não sabiam o que era estar acordado e tampouco o que era dormir: agiam por automatismo, sem pensar, sem sentir, sem tudo e mesmo sem nada, pois mesmo o nada exige compreensão.
Ele finalmente sentia: tocava o mundo e sentia a sua maciez e dureza como um bebê cuja pele tão nova é ávida de curiosidade em percorrer o mundo e brincar na lama sem ter medo de se sujar, via o jogo de cores e luz & escuridão tal como uma divertida tingida de infinitos pincéis lindamente libertos de mãos, ouvia o canto da natureza além das supostas oitavas e suas harmonias, degustava sabores tantos que dificilmente poderiam ser resumidos a quatro, e cheirava desde as flores recém abertas de seus botões até a deliciosa torta asada por alguém em terras longínquas.
Mais: ele via os sons, sentia o gosto do tato, cheirava as cores, e tantas outras ...
Tornou tudo presente.
Na natureza e no amor, tudo é unido.
Organísmico.
“Perca a cabeça e chegue aos sentidos”.
Sua autobiografia tampouco seria “fiquei confuso”.
E igualmente não “agora lúcido”.
Simplesmente seu próprio exemplo seria sua obra.
Voou para as estrelas e se fez nada.
E isso é tudo.
“Tal terapia é flexível e é por si só uma aventura de vida. O trabalho não se alinha com o conceito errôneo de o médico “descobrir” o que há de errado com o paciente e “lhe dizer”. As pessoas têm estado a “lhe dizer” a vida inteira e, na medida em que ele aceitou o que dizem, ele também tem estado a se “dizer”. Mais ainda, mesmo que haja a autoridade do médico, isso não vai mudar nada. O que é essencial não é que o terapeuta aprenda algo sobre o paciente e então lhe ensine, mas que o terapeuta ensine o paciente como aprender sobre si mesmo. Isso envolve o fato de ele tomar diretamente consciência de como, sendo um organismo vivo, ele funciona na verdade. Isto se consegue com base em experiências que são não-verbais”.
“Nossa visão do terapeuta é que ele é semelhante àquilo que o químico chama de catalisador, um ingrediente que precipita uma reação, que de outra maneira não poderia ocorrer. Ele não determina a forma da reação, que depende das propriedades reativas intrínsecas das substâncias presentes, e tampouco participa de qualquer composto que venha a ser formado com sua ajuda. O que ele faz é simplesmente dar início a um processo, e há alguns processos que, uma vez iniciados, são automantenedores e autocatalíticos. Admitimos ser este o caso da terapia. O que o médico põe a funcionar, o paciente continua sozinho. O “caso bem-sucedido”, não é uma “cura” no sentido de um produto acabado, mas uma pessoa que sabe que possui ferramentas e equipamento para lidar com os problemas à medida que estes surjam. Ele ganhou espaço para trabalhar, sem ser estorvado pelas bugigangas acumuladas de transações iniciadas mas não acabadas.
Em casos tratados sob esta formulação, o critério do progresso terapêutico cessa de ser uma questão de debate. Não é uma questão de “aceitação social” aumentada ou melhores “relações interpessoais”, vistos através dos olhos de uma autoridade estranha e autoconstituída, porém a própria tomada de consciência por parte do paciente de sua vitalidade elevada e modo de funcionar mais efetivo. Embora os outros possam também notar a mudança, a opinião favorável deles a respeito do que aconteceu não é o teste para a terapia”.
Era uma madrugada de chuva, e ele caminhava. Um certa dia de algum ano, mas era de fato um dia e um ano; são tantos dias e anos não vividos, dias e anos que não chegam a ser segundos, e quando a pessoa toma consciência para sua mente correram tempos praticamente nanos, enquanto o corpo, certamente, pode ser considerado objeto de estudo da paleontologia.
Enfim, era um dia e um ano.
E que tempo! Já não era sem! Parecia inclusive que havia rejuvenescido completamente, sendo uma criança que acabou de aprender a andar, pois cada passo seu era dado com tanto esmero e, no entanto, não tinha o mínimo cuidado em mente; aliás, nada tinha em mente, simplesmente gostava de si mesmo e o fazia.
“Pensar é ensaiar. Quem sabe faz sem pensar”.
A cidade toda dormia. Sempre dormia. Eram sonâmbulos desde sempre: não sabiam o que era estar acordado e tampouco o que era dormir: agiam por automatismo, sem pensar, sem sentir, sem tudo e mesmo sem nada, pois mesmo o nada exige compreensão.
Ele finalmente sentia: tocava o mundo e sentia a sua maciez e dureza como um bebê cuja pele tão nova é ávida de curiosidade em percorrer o mundo e brincar na lama sem ter medo de se sujar, via o jogo de cores e luz & escuridão tal como uma divertida tingida de infinitos pincéis lindamente libertos de mãos, ouvia o canto da natureza além das supostas oitavas e suas harmonias, degustava sabores tantos que dificilmente poderiam ser resumidos a quatro, e cheirava desde as flores recém abertas de seus botões até a deliciosa torta asada por alguém em terras longínquas.
Mais: ele via os sons, sentia o gosto do tato, cheirava as cores, e tantas outras ...
Tornou tudo presente.
Na natureza e no amor, tudo é unido.
Organísmico.
“Perca a cabeça e chegue aos sentidos”.
Sua autobiografia tampouco seria “fiquei confuso”.
E igualmente não “agora lúcido”.
Simplesmente seu próprio exemplo seria sua obra.
Voou para as estrelas e se fez nada.
E isso é tudo.
“Tal terapia é flexível e é por si só uma aventura de vida. O trabalho não se alinha com o conceito errôneo de o médico “descobrir” o que há de errado com o paciente e “lhe dizer”. As pessoas têm estado a “lhe dizer” a vida inteira e, na medida em que ele aceitou o que dizem, ele também tem estado a se “dizer”. Mais ainda, mesmo que haja a autoridade do médico, isso não vai mudar nada. O que é essencial não é que o terapeuta aprenda algo sobre o paciente e então lhe ensine, mas que o terapeuta ensine o paciente como aprender sobre si mesmo. Isso envolve o fato de ele tomar diretamente consciência de como, sendo um organismo vivo, ele funciona na verdade. Isto se consegue com base em experiências que são não-verbais”.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Rumo Perdido
"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela".
"Não desças os degraus do sonho. Para não despertar os monstros. Não subas aos sotãos - onde os deuses, por trás das suas máscaras, ocultam o próprio enigma. O mistério está é na tua vida. E é um sonho louco este nosso mundo...".
Ele se sentia como um planeta. Girando, andando, rodando, transeunte, andante, estonteante. Antes.
Era como um fantasma, e não sabia se estava morto ou vivo. Aliás, tampouco sabia o que significava estar e ser morto ou vivo. Jamais pensara em ser um arqueólogo. Sempre antes. Passado.
O sentido das palavras e das coisas. Arqueologia das palavras e das coisas. Em busca do tempo perdido. Não sabia o que eram palavras ou coisas.
Um pensador grego dizia que recordar é viver. Que fomos ao Hades e esquecemos de tudo ao reencarnarmos. Uma brincadeira infernal esta, pois parecia que o ser humano desejava ser Caronte. O oitavo oceano era a própria humanidade, e este formado por tanto Estinges quanto pessoas, e as pessoas eram Carontes. Procuravam embarcar a todos em seus barcos, o que era uma contradição, exceto que esses rios formavam um oceano, e os barcos, entrelaçados, formavam um só. A dúvida era entre quem seria Caronte e seguraria o timão.
Não, ele jamais desejara ser Caronte. Não tinha ódio ou amor por nada. Não desejava ser adjetivo, apenas a ele mesmo. "Navegar é preciso, viver não é preciso".
Duas conseqüências:
1) "Navegar é necessário, viver não é necessário".
2) "Navegar é preciso, viver não é preciso". Precisão. "Navegar é exato, viver não é exato". Navegar sempre foi associado a algo matemático.
Hoje o navegador tem a sua disposição, além das tradicionais carta de navegação e bússola, GPS, sistema computadorizado de metereologia, além de outros arsenais tecnológicos. Mesmo a navegação como teoria teve avanços: hoje se sabe que existem ondas que fogem ao padrão, e sua dinâmica se aplica perfeitamente a parte da física quântica; oceanógrafos, meteorologistas, engenheiros, cada qual aplicando esse conhecimento a parte que lhe cabe esse latifúndio. E mesmo em tempos das grandes descobertas havia alguma matemática aliada ao sextante: navega-se hoje com satélites, ontem com estrelas. Os poetas sentem saudades.
E o que é viver? Os antigos costumavam ir aos oceanos apenas com o barco e os remos, e navegavam na costa. Tinham medo, o oceano podia ser bem traiçoeiro. Eram demônios. Caronte tinha medo do rio? Ele sabia onde ficavam as suas margens; no oceano seria diferente. A humanidade temia a si mesma, infernal quanto ele próprio. Medo e raiva. Traduzidos em ódio.
Seres mitológicos circunavegavam na mente dos incautos. Nunca chegaram a ver o perigo, mas diziam para si mesmos que havia, e mesmo competiam perigos uns contra os outros para provar que existia. No entanto, o mar sempre fora calmo. Sempre.
Ele tinha medo e raiva, mas não ódio. O ódio é essencial, procura eliminar o sujeito odiado; a raiva despreza qualidades, adjetivos, mas não o substancial. Tinha ele o desejo de que quando alguém escrevesse, pronunciasse ou ouvisse a palavra pedra esta automaticamente se transformasse numa pedra. Não haveriam mitos. Um substantivo seria de fato substantivo, pois teria a sua substância.
Estava cansado. Não queria mais aquilo.
.
.
.
Uns dizem que é a estátua de Rodin.
Outros, que é um sábio morando nas montanhas da China comemorando suas algumas centenas de anos.
"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela".
"Não desças os degraus do sonho. Para não despertar os monstros. Não subas aos sotãos - onde os deuses, por trás das suas máscaras, ocultam o próprio enigma. O mistério está é na tua vida. E é um sonho louco este nosso mundo...".
Ele se sentia como um planeta. Girando, andando, rodando, transeunte, andante, estonteante. Antes.
Era como um fantasma, e não sabia se estava morto ou vivo. Aliás, tampouco sabia o que significava estar e ser morto ou vivo. Jamais pensara em ser um arqueólogo. Sempre antes. Passado.
O sentido das palavras e das coisas. Arqueologia das palavras e das coisas. Em busca do tempo perdido. Não sabia o que eram palavras ou coisas.
Um pensador grego dizia que recordar é viver. Que fomos ao Hades e esquecemos de tudo ao reencarnarmos. Uma brincadeira infernal esta, pois parecia que o ser humano desejava ser Caronte. O oitavo oceano era a própria humanidade, e este formado por tanto Estinges quanto pessoas, e as pessoas eram Carontes. Procuravam embarcar a todos em seus barcos, o que era uma contradição, exceto que esses rios formavam um oceano, e os barcos, entrelaçados, formavam um só. A dúvida era entre quem seria Caronte e seguraria o timão.
Não, ele jamais desejara ser Caronte. Não tinha ódio ou amor por nada. Não desejava ser adjetivo, apenas a ele mesmo. "Navegar é preciso, viver não é preciso".
Duas conseqüências:
1) "Navegar é necessário, viver não é necessário".
2) "Navegar é preciso, viver não é preciso". Precisão. "Navegar é exato, viver não é exato". Navegar sempre foi associado a algo matemático.
Hoje o navegador tem a sua disposição, além das tradicionais carta de navegação e bússola, GPS, sistema computadorizado de metereologia, além de outros arsenais tecnológicos. Mesmo a navegação como teoria teve avanços: hoje se sabe que existem ondas que fogem ao padrão, e sua dinâmica se aplica perfeitamente a parte da física quântica; oceanógrafos, meteorologistas, engenheiros, cada qual aplicando esse conhecimento a parte que lhe cabe esse latifúndio. E mesmo em tempos das grandes descobertas havia alguma matemática aliada ao sextante: navega-se hoje com satélites, ontem com estrelas. Os poetas sentem saudades.
E o que é viver? Os antigos costumavam ir aos oceanos apenas com o barco e os remos, e navegavam na costa. Tinham medo, o oceano podia ser bem traiçoeiro. Eram demônios. Caronte tinha medo do rio? Ele sabia onde ficavam as suas margens; no oceano seria diferente. A humanidade temia a si mesma, infernal quanto ele próprio. Medo e raiva. Traduzidos em ódio.
Seres mitológicos circunavegavam na mente dos incautos. Nunca chegaram a ver o perigo, mas diziam para si mesmos que havia, e mesmo competiam perigos uns contra os outros para provar que existia. No entanto, o mar sempre fora calmo. Sempre.
Ele tinha medo e raiva, mas não ódio. O ódio é essencial, procura eliminar o sujeito odiado; a raiva despreza qualidades, adjetivos, mas não o substancial. Tinha ele o desejo de que quando alguém escrevesse, pronunciasse ou ouvisse a palavra pedra esta automaticamente se transformasse numa pedra. Não haveriam mitos. Um substantivo seria de fato substantivo, pois teria a sua substância.
Estava cansado. Não queria mais aquilo.
.
.
.
Uns dizem que é a estátua de Rodin.
Outros, que é um sábio morando nas montanhas da China comemorando suas algumas centenas de anos.
sábado, 18 de julho de 2009
Ela fez o seu dia
"Era uma manhãzinha de 27 de junho de 2009, entre seis e meia e sete e meia. E ela correu no parque, era uma manhã chuvosa, embora não chovesse, e ela foi a todas as partes do parque. Ensaiou nas partes visíveis do parque para, num declive e aclive, gritar no invisível. Corria e gritava. Voava e gritava. Uma mistura louca de uma bailarina cantora. Cantavasoprava a liberdade. Gritava a liberdade. Esbravejava a liberdade. Estava feliz como há muito não conseguia. Sorria. Não conseguia conter sorrisos. Não queria conter os sorrisos. E continuava a sorrir. Jamais parou.
Bom, é isso. Adeus. Vá em paz".
"Era uma manhãzinha de 27 de junho de 2009, entre seis e meia e sete e meia. E ela correu no parque, era uma manhã chuvosa, embora não chovesse, e ela foi a todas as partes do parque. Ensaiou nas partes visíveis do parque para, num declive e aclive, gritar no invisível. Corria e gritava. Voava e gritava. Uma mistura louca de uma bailarina cantora. Cantavasoprava a liberdade. Gritava a liberdade. Esbravejava a liberdade. Estava feliz como há muito não conseguia. Sorria. Não conseguia conter sorrisos. Não queria conter os sorrisos. E continuava a sorrir. Jamais parou.
Bom, é isso. Adeus. Vá em paz".
Esperança: serenidade
“A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões”.
O perfume do café era o seu incenso. O sorvia lentamente, como se pudesse sentir cada gota do líquido escorrendo por suas profundezas, e em cada partícula conseguisse encontrar a alma de cada grão das frutas colhidas. Era o aroma do campo, da noite, do café, da torta de limão, dos livros queimando, de si mesma ...
“Estou cansado de viver na minha terra natal,
Pensativo nas vastidões de trigo negro,
A minha cabana vou abandonar
E partirei como vagabundo e ladrão”
... que juntavalsavam...
“Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...”
... que cantavam...
“Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia”
Enfim.
Observando a relva calma, que mexia sob o peso de vagalumes e brisa, cortava com delicadeza pequeninos pedaços da torta e sentia no peso do garfo o recheio consistente, metido em agradável massa, formando seu próprio universo. Lembrava dos agradáveis finais de tarde, quando ou gostava de caminhar ou cozinhar, quando não as duas coisas juntas numa tremenda proeza de colher alguns dos ingredientes direto da sua horta cultivada no grande jardim que mantinha ao fundo de sua casa, florestapomar o mar de amar, fazia as suas conforme suas inclinações como tivesse ainda sob o guidão de sua bicicleta vermelha a navecavalgar, as mãos tocando macias e tranqüilas sobre a massa paciente, ambas desejando o carinho uma da outra...
Cada pedaço levado a boca
Uma lembrança
Cada pedaço levado a boca
Uma comilança
Lambia os beiços
Tomava o café
Tragava os livros
Sentia os beijos
Um toque de fé
Brios
Misturava a massa, sentindo sua agradável consistência entre os dedos, e levava a fôrma. Base. Alicerce.
“Massa:
1 xícara de trigo
1 ovo batido
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó
100 g margarina”
Preparava o néctar de sua flor, sentindo o liberar de odores dos limões sendo raspados e sendo misturados ao leite condensado. Azedo e doce. Passado e futuro.
“Recheio:
2 latas de leite condensado
Suco de 7 limões
Raspas de limão
1/2 pacotinho de gelatina sem sabor dissolvido em banho-maria
Cobertura:
4 claras batidas em neve
4 colheres de açúcar
Misturar todos os ingredientes e colocar na geladeira, enquanto, a massa assa e você bate o suspiro”
Havia esquentado. Inverno. “E que tudo o mais vá pro inferno”.
“Modo de preparo:
1. Massa: misturar tudo até ficar homogênea, abrir com as mãos em uma forma com fundo removível, forrar o fundo e as laterais
2. Assar em forno pré-aquecido
3. Por uns 20 minutos até dourar levemente”
Com carinho e esmero casavam: fermentado calor. Com esperança e amor esfriavam: acalentado torpor. Com paciência e perfeição assentavam: delicioso sabor.
“Cobertura:
1. Depois da massa esfriar, colocar o recheio, o suspiro e raspinhas de limão
2. Colocar no forno rapidamente para dourar um pouco o suspiro, (gratinar)
3. Leve para gelar”
O café.
Causava-lhe imenso prazer ter conseguido plantar café. Havia, recentemente, conseguido uma máquina de café expresso. Quis, assim, experimentar todo o processo, não sonhar pela metade: encarnou a fantasia e se sentia uma camponesa, e tocar os grãos, observá-los secar calmamente naquelas manhãs e tardes de sol, tudo isso era vivenciar um grande teatro, o mundo era seu palco, e talvez o amargo da bebida pronta a fizesse lembrar o gosto da humanidade.
“As máquinas de café expresso devem permitir a operação com pressão de 9 atmosferas (atm) e temperatura de 90º C, num tempo que varia de 25 a 30 segundos. Estas são condições ideais para a obtenção de um café expresso excelente”.
Entre pessoas existem boas conversas e abraços, entre cafés existem açúcares. E todos se tornam melhores. Como dizia a avó, tudo está no tempero.
“O café expresso é concentrado - 7 gramas de pó para até 50ml de água - de aroma e sabor intensos com um bom corpo e persistência no paladar, coberto por um denso creme cor de avelã (marrom claro) em toda superfície da xícara, cuja espessura deve estar entre 3mm e 4mm”.
A maturidade está na justa medida.
“A primeira providência para o café expresso perfeito é encontrar a moagem ideal do pó”.
No necessário.
“50 ml de água (expresso normal);
30 ml de água (curto)
7 gramas de café
90ºC de temperatura para a água
9 bar de pressão para a máquina do café expresso
30 segundos de tempo para de infusão da bebida
O creme deve ser consistente - ao consumir a bebida o creme fica grudado na parede da xícara. A sua cor deve ser bege escura.
O creme serve para manter a temperatura da bebida e preservar seu aroma. Mesmo que a pessoa não adicione açúcar ou adoçante, o café deve ser mexido para que seus aromas possam ser sentidos”.
E era quente como o carinho de uma mão deslizando feliz sobre a face.
“O creme espesso e duradouro é o sinal mais importante de que o café expresso foi bem tirado”.
Como estar sobre nuvens.
Cat Stevens.
Don’t be shy.
E havia paz.
“A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões”.
O perfume do café era o seu incenso. O sorvia lentamente, como se pudesse sentir cada gota do líquido escorrendo por suas profundezas, e em cada partícula conseguisse encontrar a alma de cada grão das frutas colhidas. Era o aroma do campo, da noite, do café, da torta de limão, dos livros queimando, de si mesma ...
“Estou cansado de viver na minha terra natal,
Pensativo nas vastidões de trigo negro,
A minha cabana vou abandonar
E partirei como vagabundo e ladrão”
... que juntavalsavam...
“Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...”
... que cantavam...
“Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia”
Enfim.
Observando a relva calma, que mexia sob o peso de vagalumes e brisa, cortava com delicadeza pequeninos pedaços da torta e sentia no peso do garfo o recheio consistente, metido em agradável massa, formando seu próprio universo. Lembrava dos agradáveis finais de tarde, quando ou gostava de caminhar ou cozinhar, quando não as duas coisas juntas numa tremenda proeza de colher alguns dos ingredientes direto da sua horta cultivada no grande jardim que mantinha ao fundo de sua casa, florestapomar o mar de amar, fazia as suas conforme suas inclinações como tivesse ainda sob o guidão de sua bicicleta vermelha a navecavalgar, as mãos tocando macias e tranqüilas sobre a massa paciente, ambas desejando o carinho uma da outra...
Cada pedaço levado a boca
Uma lembrança
Cada pedaço levado a boca
Uma comilança
Lambia os beiços
Tomava o café
Tragava os livros
Sentia os beijos
Um toque de fé
Brios
Misturava a massa, sentindo sua agradável consistência entre os dedos, e levava a fôrma. Base. Alicerce.
“Massa:
1 xícara de trigo
1 ovo batido
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó
100 g margarina”
Preparava o néctar de sua flor, sentindo o liberar de odores dos limões sendo raspados e sendo misturados ao leite condensado. Azedo e doce. Passado e futuro.
“Recheio:
2 latas de leite condensado
Suco de 7 limões
Raspas de limão
1/2 pacotinho de gelatina sem sabor dissolvido em banho-maria
Cobertura:
4 claras batidas em neve
4 colheres de açúcar
Misturar todos os ingredientes e colocar na geladeira, enquanto, a massa assa e você bate o suspiro”
Havia esquentado. Inverno. “E que tudo o mais vá pro inferno”.
“Modo de preparo:
1. Massa: misturar tudo até ficar homogênea, abrir com as mãos em uma forma com fundo removível, forrar o fundo e as laterais
2. Assar em forno pré-aquecido
3. Por uns 20 minutos até dourar levemente”
Com carinho e esmero casavam: fermentado calor. Com esperança e amor esfriavam: acalentado torpor. Com paciência e perfeição assentavam: delicioso sabor.
“Cobertura:
1. Depois da massa esfriar, colocar o recheio, o suspiro e raspinhas de limão
2. Colocar no forno rapidamente para dourar um pouco o suspiro, (gratinar)
3. Leve para gelar”
O café.
Causava-lhe imenso prazer ter conseguido plantar café. Havia, recentemente, conseguido uma máquina de café expresso. Quis, assim, experimentar todo o processo, não sonhar pela metade: encarnou a fantasia e se sentia uma camponesa, e tocar os grãos, observá-los secar calmamente naquelas manhãs e tardes de sol, tudo isso era vivenciar um grande teatro, o mundo era seu palco, e talvez o amargo da bebida pronta a fizesse lembrar o gosto da humanidade.
“As máquinas de café expresso devem permitir a operação com pressão de 9 atmosferas (atm) e temperatura de 90º C, num tempo que varia de 25 a 30 segundos. Estas são condições ideais para a obtenção de um café expresso excelente”.
Entre pessoas existem boas conversas e abraços, entre cafés existem açúcares. E todos se tornam melhores. Como dizia a avó, tudo está no tempero.
“O café expresso é concentrado - 7 gramas de pó para até 50ml de água - de aroma e sabor intensos com um bom corpo e persistência no paladar, coberto por um denso creme cor de avelã (marrom claro) em toda superfície da xícara, cuja espessura deve estar entre 3mm e 4mm”.
A maturidade está na justa medida.
“A primeira providência para o café expresso perfeito é encontrar a moagem ideal do pó”.
No necessário.
“50 ml de água (expresso normal);
30 ml de água (curto)
7 gramas de café
90ºC de temperatura para a água
9 bar de pressão para a máquina do café expresso
30 segundos de tempo para de infusão da bebida
O creme deve ser consistente - ao consumir a bebida o creme fica grudado na parede da xícara. A sua cor deve ser bege escura.
O creme serve para manter a temperatura da bebida e preservar seu aroma. Mesmo que a pessoa não adicione açúcar ou adoçante, o café deve ser mexido para que seus aromas possam ser sentidos”.
E era quente como o carinho de uma mão deslizando feliz sobre a face.
“O creme espesso e duradouro é o sinal mais importante de que o café expresso foi bem tirado”.
Como estar sobre nuvens.
Cat Stevens.
Don’t be shy.
E havia paz.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Quinta-feira, 15 de Junho de 2006
Para ela
Durante os dias e noites, a luz e a escuridão compartilham uma dança
Ambas se convidam, numa reciprocidade que não busca unilateralidade
Nos sonhos e na realidade, transformam-se natureza e transcendência
Numa ciência cuja arte tem seu magistral momento de consciência
Onde a bondade toca os corações dos seres todos com sua bonança
Cuja beleza esculpe um universo tão intenso e imenso de amabilidade
E na justiça de seus atos encontra grande benevolência e estética na responsabilidade
E na liberdade encontram a claridade e a obscuridade seu palco para dançar
E amar e sentir
Pensar e filosofar
Abraçar e ser abraçado
Beijar e ser (muito) beijado
Via o soldadinho de chumbo
Amigo um menino um tanto rebelde
A bela valsa da dançarina
Que se via na caixinha de música
Ricamente decorada com esmero
Pois tinha uma menina bastante meiga que muito gostava dela
Não entendia aquela arte
Mas sabia ser admirável tão belos passos
E oriundos de tão belo ser
Esperava ser um cisne
Mas o palco não era água e temia sua chegada
Recebia piscadas dela
Buscava pisar ele ali, mas tinha medo de fazer feio
Pensava ser ali liso pois deslizava tão bela
Em seu receio, se aproximou a artista
E notou que seus pés, dando dum quanto outro, eram daquele metal
Aparentemente tão indelicado, mas tão ágil!
E ambos se deram a formar um só
No meio de um palco de tantas dimensões
Que pareciam o interior dos seres
Pois os sentimentos e pensamentos descreviam tantas coisas
Que só podia ser descrito no embalar dos apaixonados
E no encerrar de um beijo eternizando tudo
Para ela
Durante os dias e noites, a luz e a escuridão compartilham uma dança
Ambas se convidam, numa reciprocidade que não busca unilateralidade
Nos sonhos e na realidade, transformam-se natureza e transcendência
Numa ciência cuja arte tem seu magistral momento de consciência
Onde a bondade toca os corações dos seres todos com sua bonança
Cuja beleza esculpe um universo tão intenso e imenso de amabilidade
E na justiça de seus atos encontra grande benevolência e estética na responsabilidade
E na liberdade encontram a claridade e a obscuridade seu palco para dançar
E amar e sentir
Pensar e filosofar
Abraçar e ser abraçado
Beijar e ser (muito) beijado
Via o soldadinho de chumbo
Amigo um menino um tanto rebelde
A bela valsa da dançarina
Que se via na caixinha de música
Ricamente decorada com esmero
Pois tinha uma menina bastante meiga que muito gostava dela
Não entendia aquela arte
Mas sabia ser admirável tão belos passos
E oriundos de tão belo ser
Esperava ser um cisne
Mas o palco não era água e temia sua chegada
Recebia piscadas dela
Buscava pisar ele ali, mas tinha medo de fazer feio
Pensava ser ali liso pois deslizava tão bela
Em seu receio, se aproximou a artista
E notou que seus pés, dando dum quanto outro, eram daquele metal
Aparentemente tão indelicado, mas tão ágil!
E ambos se deram a formar um só
No meio de um palco de tantas dimensões
Que pareciam o interior dos seres
Pois os sentimentos e pensamentos descreviam tantas coisas
Que só podia ser descrito no embalar dos apaixonados
E no encerrar de um beijo eternizando tudo
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009
Esperança: esperança da esperança
Um morro.
Um cânion.
"Ó beleza! Onde está tua verdade?"
Altos e baixos não fazem necessariamente uma planície. Outrora sonhava acordada. Sombras e luzes, frio e calor, companhia e solidão quando futuro e passado se abraçavam e faziam, num aperto curioso de mãos, climas simultâneos.
“Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
‘Uma visita’, eu me disse, ‘está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais’"
“Tudo sufocante
Pálido, no instante
Em que choro
Se as velhas cantigas
Das horas antigas
Rememoro”
“Num vaivém, colhe a semente,
Reabre a mão, a semear...
E, estranho a esse augusto ambiente,
Eu, como obscuro assistente,
Entro agora a meditar...”
Postado por Val às 21:41
Esperança: esperança da esperança
Um morro.
Um cânion.
"Ó beleza! Onde está tua verdade?"
Altos e baixos não fazem necessariamente uma planície. Outrora sonhava acordada. Sombras e luzes, frio e calor, companhia e solidão quando futuro e passado se abraçavam e faziam, num aperto curioso de mãos, climas simultâneos.
“Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
‘Uma visita’, eu me disse, ‘está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais’"
“Tudo sufocante
Pálido, no instante
Em que choro
Se as velhas cantigas
Das horas antigas
Rememoro”
“Num vaivém, colhe a semente,
Reabre a mão, a semear...
E, estranho a esse augusto ambiente,
Eu, como obscuro assistente,
Entro agora a meditar...”
Postado por Val às 21:41
Esperança: abrem-se as cortinas.
Ela se aprontava com esmero. Reunia nesse cesto de vime todos os seus livros, um pedaço de torta de limão e uma pequena térmica recheada de café bem quente. Abriu por um segundo e sentiu o cheiro perfumado da bebida. Fechou com segurança.
Lá fora esta sua bicicleta. Aro 26, vermelha, com uma cestinha e pneus de banda branca. A esperava de frente ao pequeno portão de madeira que encerrava os limites do jardim com a rua. Apoiada no pezinho, a aguardava. Sem se cansar. Reluzia com a luz dos carros que passavam na rua.
Trocava de roupa. Tirou a que vestia e via seu belo corpo, ela era bem definida e de belas curvas. Sentia-se poderosa. Colocou algo apropriado.
Um pequeno vestido que realçava sua beleza. Queria sentir a si mesma.
Era oportuno.
Já havia estudado a todos os movimentos, todos os cenários. Havia se preparado em todo seu esplendor.
Colocou um pequeno sapato.
Havia silêncio. Abriu a porta do seu quarto. Caminhou pela sala.
Chegou até o sofá e abriu as cortinas. Estrelas.
Primeiro ato.
Passeou. Girou a maçaneta. Ar fresco.
Perfumado.
Suave.
Amada.
Não titubeou momento algum, pois gostava do aroma daquele ambiente. O couro era macio e vestia tão bem quanto seu vestido. Sentada, apenas meditava.
Caminhou.
O orvalho nas rosas.
Abriu o acesso, segurou o guidão e foi ao mundo.
Sentou-se no selim e pedalava.
Sentia-se excitada.
Calor e vento. Carícias. Sonhos.
Abraçada.
Pelas vias foi-se como uma brisa. Os automóveis passavam indiferentes, ainda que seus donos vissem como era formidável aquela garota que seguia. Não havia muito que fazer: estavam todos muito cansados, e a atmosfera densa de suas vidas não lhes permitia navegar quando não havia farol na alvorada.
Girava os pedais e a lanterna da bicicleta iluminava o asfalto.
Saia das ruas para chegar ao campo.
Por uma estrada de terra. Pneu com solo. Música.
Era alto.
As luzes dos postes ficavam para trás.
Os sonhos dos outros estavam passados.
Que cidade?
Não havia mais idade.
A escuridão era uma mera convenção. A luz de seu girar de pedais era segura como sua autora. Além disso, os vaga-lumes eram bons guias: aos transeuntes que confiam na natureza eles se apresentam, pois sabem que ali existe amizade.
Sabia que era uma floresta devido as suas precauções. Contava uma vida que ansiava. Tinha feito academia para modelar o físico, havia preparado todas as suas poesias e pinturas, jogava xadrez e dama sem igual.
Sendo uma dama que jogava dama, sabia da sua sexualidade: era mulher com tal firmeza que o seu real prazer estava em tocar e abraçar, porque queria fazer justiça mesmo a uma pedra que anseia, solitária, por compreensão.
Sempre fora sua intenção.
Deixou ali o aparato.
Seguiu sem o sapato.
Segundo ato.
Os pés ao solo.
A relva amortecia.
Conhecia.
Como as palmas de sua mão.
Era justiça real: amava ao mundo sem igual. Não era como aquela dama que, feita de pedra, dupla e infinitamente cega, segurava impotente uma espada que nada corta e uma balança que nada mede. Esta justiça não ama nem odeia, essa justiça não é justiça nem injustiça: é submissa.
Tinha uma premissa.
Carregava uma vela.
E uma lanterna.
Uma missa.
No morro de uma árvore só.
Acendeu a vela.
A luz amarela.
Nostalgia.
Ela usava inteligência e exercia influência . Era ciência. Amor com eficiência.
Logo, a lanterna.
Luz branca.
Infância.
Importância.
Estava deitada junto a árvore com as costas encostadas nela. Era um solo misturado a grama e rochas, formado de tal jeito ali que era como uma cama. O passado sempre é dourado, e o futuro branco. Quando criança, gostava de observar, nas viagens pelas estradas, a luz branca das cidades lá longe, como se em meio a escuridão trilhar o caminho até a claridade fosse uma aventura dos mistérios da escuridão até a maturidade de todas as cores reunidas. Compreendia que engatinhava pelo mundo aprendendo a andar.
Assim, era mulher em totalidade: mãe de si mesma.
Abriu a cesta calmamente. Tomou nas mãos a torta, os livros e o café. Tinha também um isqueiro.
Precisava aquecer-se. Tomou os livros e os arrumou com capricho numa pilha, tendo antes cavado um buraco e inserí-los ali. Pegou sua página preferida e ali, com o instrumento, cuspiu fogo.
A chama prontamente se fez presente, irradiando no escuro com suas cores vibrantes. Dançava. “Não é lindo?”.
Postado por Val às 19:57
Ela se aprontava com esmero. Reunia nesse cesto de vime todos os seus livros, um pedaço de torta de limão e uma pequena térmica recheada de café bem quente. Abriu por um segundo e sentiu o cheiro perfumado da bebida. Fechou com segurança.
Lá fora esta sua bicicleta. Aro 26, vermelha, com uma cestinha e pneus de banda branca. A esperava de frente ao pequeno portão de madeira que encerrava os limites do jardim com a rua. Apoiada no pezinho, a aguardava. Sem se cansar. Reluzia com a luz dos carros que passavam na rua.
Trocava de roupa. Tirou a que vestia e via seu belo corpo, ela era bem definida e de belas curvas. Sentia-se poderosa. Colocou algo apropriado.
Um pequeno vestido que realçava sua beleza. Queria sentir a si mesma.
Era oportuno.
Já havia estudado a todos os movimentos, todos os cenários. Havia se preparado em todo seu esplendor.
Colocou um pequeno sapato.
Havia silêncio. Abriu a porta do seu quarto. Caminhou pela sala.
Chegou até o sofá e abriu as cortinas. Estrelas.
Primeiro ato.
Passeou. Girou a maçaneta. Ar fresco.
Perfumado.
Suave.
Amada.
Não titubeou momento algum, pois gostava do aroma daquele ambiente. O couro era macio e vestia tão bem quanto seu vestido. Sentada, apenas meditava.
Caminhou.
O orvalho nas rosas.
Abriu o acesso, segurou o guidão e foi ao mundo.
Sentou-se no selim e pedalava.
Sentia-se excitada.
Calor e vento. Carícias. Sonhos.
Abraçada.
Pelas vias foi-se como uma brisa. Os automóveis passavam indiferentes, ainda que seus donos vissem como era formidável aquela garota que seguia. Não havia muito que fazer: estavam todos muito cansados, e a atmosfera densa de suas vidas não lhes permitia navegar quando não havia farol na alvorada.
Girava os pedais e a lanterna da bicicleta iluminava o asfalto.
Saia das ruas para chegar ao campo.
Por uma estrada de terra. Pneu com solo. Música.
Era alto.
As luzes dos postes ficavam para trás.
Os sonhos dos outros estavam passados.
Que cidade?
Não havia mais idade.
A escuridão era uma mera convenção. A luz de seu girar de pedais era segura como sua autora. Além disso, os vaga-lumes eram bons guias: aos transeuntes que confiam na natureza eles se apresentam, pois sabem que ali existe amizade.
Sabia que era uma floresta devido as suas precauções. Contava uma vida que ansiava. Tinha feito academia para modelar o físico, havia preparado todas as suas poesias e pinturas, jogava xadrez e dama sem igual.
Sendo uma dama que jogava dama, sabia da sua sexualidade: era mulher com tal firmeza que o seu real prazer estava em tocar e abraçar, porque queria fazer justiça mesmo a uma pedra que anseia, solitária, por compreensão.
Sempre fora sua intenção.
Deixou ali o aparato.
Seguiu sem o sapato.
Segundo ato.
Os pés ao solo.
A relva amortecia.
Conhecia.
Como as palmas de sua mão.
Era justiça real: amava ao mundo sem igual. Não era como aquela dama que, feita de pedra, dupla e infinitamente cega, segurava impotente uma espada que nada corta e uma balança que nada mede. Esta justiça não ama nem odeia, essa justiça não é justiça nem injustiça: é submissa.
Tinha uma premissa.
Carregava uma vela.
E uma lanterna.
Uma missa.
No morro de uma árvore só.
Acendeu a vela.
A luz amarela.
Nostalgia.
Ela usava inteligência e exercia influência . Era ciência. Amor com eficiência.
Logo, a lanterna.
Luz branca.
Infância.
Importância.
Estava deitada junto a árvore com as costas encostadas nela. Era um solo misturado a grama e rochas, formado de tal jeito ali que era como uma cama. O passado sempre é dourado, e o futuro branco. Quando criança, gostava de observar, nas viagens pelas estradas, a luz branca das cidades lá longe, como se em meio a escuridão trilhar o caminho até a claridade fosse uma aventura dos mistérios da escuridão até a maturidade de todas as cores reunidas. Compreendia que engatinhava pelo mundo aprendendo a andar.
Assim, era mulher em totalidade: mãe de si mesma.
Abriu a cesta calmamente. Tomou nas mãos a torta, os livros e o café. Tinha também um isqueiro.
Precisava aquecer-se. Tomou os livros e os arrumou com capricho numa pilha, tendo antes cavado um buraco e inserí-los ali. Pegou sua página preferida e ali, com o instrumento, cuspiu fogo.
A chama prontamente se fez presente, irradiando no escuro com suas cores vibrantes. Dançava. “Não é lindo?”.
Postado por Val às 19:57
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2009
Coragem
...e ela corria. Loucamente. Não sentia nem mais seu próprio fôlego. Era um cadáver e, não tendo respiração, poderia correr infinitamente sem cansar. Filípides ficaria com inveja, embora não desejasse necessitar ir ao Hades por muito menos.
Ela sabia que eles estavam ali, mas não em que lugar exatamente. Estava quente. Seus cabelos não paravam, e constantemente mexia neles num esforço inútil - o que, talvez, não fosse a única coisa dispensável.
Reconhecia o lugar porque havia avistado nos sonhos de alguém. Não sabia dizer quem, mas sabia que eram os de outra pessoa.
Sua lembrança era de que o lugar era dividido em três, e cada um deles tinha nove círculos. Estes, por sua vez, tinham cada qual o seu Verbo. Procurava o Um.
Não dispondo ela de tempo para uma apologética, seguiu. E o abismo olhava para ela.
Haviam muitos ali. Observavam. E nada mais.
Se ela pudesse dispor de si mesma...
...pressa, depressa. Voava.
A frente, um sorriso.
Apenas.
A ampulheta secava.
Gargalhadas.
Finalmente sentou.
Veni.
Vidi.
Stelle.
Vici?
Gritou “27”.
A “plenos pulmões”.
“Vivendo sob o fogo”.
Russos.
E a coisa estava ruça.
Mal notou ela que eles estavam o tempo todo a acompanhando.
Que seguravam o seu tempo.
E lhe deram um novo tempo.
Já não era sem tempo.
Quebraram a ampulheta como quem quebra um copo depois da vodka.
Nunca houvera tempo para ter tempo.
Não havia vida para quem tinha tempo.
É necessário o infinito para haver vida.
E ela não se sentava.
Sorriu.
Postado por Val às 21:27
Coragem
...e ela corria. Loucamente. Não sentia nem mais seu próprio fôlego. Era um cadáver e, não tendo respiração, poderia correr infinitamente sem cansar. Filípides ficaria com inveja, embora não desejasse necessitar ir ao Hades por muito menos.
Ela sabia que eles estavam ali, mas não em que lugar exatamente. Estava quente. Seus cabelos não paravam, e constantemente mexia neles num esforço inútil - o que, talvez, não fosse a única coisa dispensável.
Reconhecia o lugar porque havia avistado nos sonhos de alguém. Não sabia dizer quem, mas sabia que eram os de outra pessoa.
Sua lembrança era de que o lugar era dividido em três, e cada um deles tinha nove círculos. Estes, por sua vez, tinham cada qual o seu Verbo. Procurava o Um.
Não dispondo ela de tempo para uma apologética, seguiu. E o abismo olhava para ela.
Haviam muitos ali. Observavam. E nada mais.
Se ela pudesse dispor de si mesma...
...pressa, depressa. Voava.
A frente, um sorriso.
Apenas.
A ampulheta secava.
Gargalhadas.
Finalmente sentou.
Veni.
Vidi.
Stelle.
Vici?
Gritou “27”.
A “plenos pulmões”.
“Vivendo sob o fogo”.
Russos.
E a coisa estava ruça.
Mal notou ela que eles estavam o tempo todo a acompanhando.
Que seguravam o seu tempo.
E lhe deram um novo tempo.
Já não era sem tempo.
Quebraram a ampulheta como quem quebra um copo depois da vodka.
Nunca houvera tempo para ter tempo.
Não havia vida para quem tinha tempo.
É necessário o infinito para haver vida.
E ela não se sentava.
Sorriu.
Postado por Val às 21:27
Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2009
Desespero
Cheguei aquela manhã, com um chuva de pingos finos e um frio rasante, aquele lugar. Para muitos, um lugar de descanso; para outros, um lugar de lembranças. Contudo, em ambos os casos, a felicidade é maior para o visitado do que ao visitante: este se conforma com a vista de extenso gramado, árvores, alguns bancos aqui e acolá devidamente colocados sob as copas daquelas, e vários passados vivos na forma de totens de diferentes formas.
Encontrei K. em várias primeiras vezes, e em todas ele era o mesmo e diferente. Não era como Caeiro, Campos, Reis, etc: nunca precisou se manifestar senão como K. E, no entanto, nunca foi devidamente K.
Tivemos muitas conversas, embora ele tivesse a mania de haver apresentado todo o conteúdo de seu diálogo desde o início. Auto-suficiente? Talvez.
Contudo, apreciei muito essa sua qualidade: por não responder a meus questionamentos nunca se permitiu ser julgado, e assim a capa de seu (ou seus) livro, assim como o conteúdo, sempre permaneceu impecável.
Sendo assim, somente eu poderia ter empatia por ele, e esta foi sobremaneira potente que colocou-me na tarefa que lhes comunico agora.
Sempre ele disse: suprima tudo que pensei. Aliás, isso era em muito desejável: era sua comunicação, em quaisquer sentidos, um lamento. E sendo ele muito prestativo a causa da humanidade, sempre procurou ter entre os seus que reservassem para ele suas confissões, como se fôssemos também ele.
Bom, um dia ele se foi (ou se meteu em seu castelo - seduzir nunca fora seu forte, nem consigo mesmo), assim como muitas coisas em seu quintal, mental ou não. Guardávamos muitas coisas dele, e sabíamos do seu gênio. Entretanto, confundimos sua estatura como se fosse nossa, e tornamos público o que era de outro. Metamorfoseamos.
O processo não foi justo para ele: o que precisávamos ter oferecido a ele era carinho e amor. Não isso. Tivéssemos ajudado ele a sair daquela colônia penal...
Era um artista. Da fome. Não soubemos interpretar isso: nunca pareceu que nos houvéssemos em semelhante situação. Bem nutridos estávamos e ficamos mais ainda com sua herança.
Desde que escrevi minha carta ao pai soube compreender de forma mais exata sua situação, e a estranha comunhão que nunca entendi ter contigo.
Pensava minha vida confortável. Uma ilusão.
Nunca pediste um carinho como imaginava desejar: tinhámos muito por baixo, mesmo porque nunca compreendíamos bem, dado os vários significados, do que procurava dizer com "Ungeziefer". O seu anseio era o de um estranho a si mesmo: procurava se encontrar e ser encontrado, de se aceitar e ser aceito.
Seus termos, sua forma de pensar, sempre tão imparcial que deixava de aparecer inclusive a si mesmo. Dissolvido em sua "Verwandlung", eram tantas as transformações suas como nossas, e no entanto nunca perdeste seu fio condutor.
Nós sim.
Aqui me vejo a sua frente. Ainda continuas o mesmo. Mesmo que reine sobre ti uma pedra com seu nome continuas sobre esta, pois é exclusivamente K.
Devolvo a ti tudo que carrego.
Peço que analise minha condição.
Explico a ti meus "porquês" e "comos".
És mais profundo.
Aponta para mim.
"O que é?".
"Não sei".
Pede que lhe entregue meus pensamentos.
Lágrimas recíprocas.
Abraçou-me.
"Seria uma ironia?".
Sempre foi sincero, sensível. Não importa a tormenta ou o lúgubre.
Afinal, os rouxinóis cantam, não é mesmo?
Postado por Val às 16:08
Desespero
Cheguei aquela manhã, com um chuva de pingos finos e um frio rasante, aquele lugar. Para muitos, um lugar de descanso; para outros, um lugar de lembranças. Contudo, em ambos os casos, a felicidade é maior para o visitado do que ao visitante: este se conforma com a vista de extenso gramado, árvores, alguns bancos aqui e acolá devidamente colocados sob as copas daquelas, e vários passados vivos na forma de totens de diferentes formas.
Encontrei K. em várias primeiras vezes, e em todas ele era o mesmo e diferente. Não era como Caeiro, Campos, Reis, etc: nunca precisou se manifestar senão como K. E, no entanto, nunca foi devidamente K.
Tivemos muitas conversas, embora ele tivesse a mania de haver apresentado todo o conteúdo de seu diálogo desde o início. Auto-suficiente? Talvez.
Contudo, apreciei muito essa sua qualidade: por não responder a meus questionamentos nunca se permitiu ser julgado, e assim a capa de seu (ou seus) livro, assim como o conteúdo, sempre permaneceu impecável.
Sendo assim, somente eu poderia ter empatia por ele, e esta foi sobremaneira potente que colocou-me na tarefa que lhes comunico agora.
Sempre ele disse: suprima tudo que pensei. Aliás, isso era em muito desejável: era sua comunicação, em quaisquer sentidos, um lamento. E sendo ele muito prestativo a causa da humanidade, sempre procurou ter entre os seus que reservassem para ele suas confissões, como se fôssemos também ele.
Bom, um dia ele se foi (ou se meteu em seu castelo - seduzir nunca fora seu forte, nem consigo mesmo), assim como muitas coisas em seu quintal, mental ou não. Guardávamos muitas coisas dele, e sabíamos do seu gênio. Entretanto, confundimos sua estatura como se fosse nossa, e tornamos público o que era de outro. Metamorfoseamos.
O processo não foi justo para ele: o que precisávamos ter oferecido a ele era carinho e amor. Não isso. Tivéssemos ajudado ele a sair daquela colônia penal...
Era um artista. Da fome. Não soubemos interpretar isso: nunca pareceu que nos houvéssemos em semelhante situação. Bem nutridos estávamos e ficamos mais ainda com sua herança.
Desde que escrevi minha carta ao pai soube compreender de forma mais exata sua situação, e a estranha comunhão que nunca entendi ter contigo.
Pensava minha vida confortável. Uma ilusão.
Nunca pediste um carinho como imaginava desejar: tinhámos muito por baixo, mesmo porque nunca compreendíamos bem, dado os vários significados, do que procurava dizer com "Ungeziefer". O seu anseio era o de um estranho a si mesmo: procurava se encontrar e ser encontrado, de se aceitar e ser aceito.
Seus termos, sua forma de pensar, sempre tão imparcial que deixava de aparecer inclusive a si mesmo. Dissolvido em sua "Verwandlung", eram tantas as transformações suas como nossas, e no entanto nunca perdeste seu fio condutor.
Nós sim.
Aqui me vejo a sua frente. Ainda continuas o mesmo. Mesmo que reine sobre ti uma pedra com seu nome continuas sobre esta, pois é exclusivamente K.
Devolvo a ti tudo que carrego.
Peço que analise minha condição.
Explico a ti meus "porquês" e "comos".
És mais profundo.
Aponta para mim.
"O que é?".
"Não sei".
Pede que lhe entregue meus pensamentos.
Lágrimas recíprocas.
Abraçou-me.
"Seria uma ironia?".
Sempre foi sincero, sensível. Não importa a tormenta ou o lúgubre.
Afinal, os rouxinóis cantam, não é mesmo?
Postado por Val às 16:08
Domingo, 18 de Janeiro de 2009
Il Sacrifitio: Uma redundância além de si*
Um rosto sorri; outro chora; outro encontra-se sereno e calmo; outrem, frio; ali, nervoso. Poderia citar n rostos, n olhares, que demonstrariam ações de dado momento que jamais poderiam ser analisadas em descompasso, em separado, sem que fosse um simplismo, exceto se a pessoa fosse monossilábica ou oxítona, hipótese rara mais digna de ser olhada e dissecada em seu mínimo detalhe; pessoas são geralmente paroxítonas ou proparoxítonas, pois revelam uma quantidade de dados talvez até frustrante a quem pensa deter sua crítica durante toda uma vida; e aqueles rostos, podem ser descritos como aqui e lá, e seu contrário, e tudo junto, o que parece uma tela cheia duma paradoxal frenesi a que chamamos de Universo - é isso, Einstein e/ou Freud? - ; mas continuamos humanos, não?
Sim, continuamos a caminhar perante isso ou aquilo que chamamos de humanidade; somos todos e eles nós, eu sou você e você eu, eu sou ninguém e ninguém são todos; peças de xadrez espalhadas alietoriamente, coisificação de seres rápida e eficaz pro grande abatedouro ou expressão de cada ente como criatura inter-ligada a realidade? Coisa é coisa; um abajur é uma coisa, o sol idem, a carne também, e todos provém a vida; o que faz justamente a vida humana ser mais especial que outras, se tudo é nada e vice-versa? Ainda: se só a carne pode ter independência, como fosse superior? Átomos são átomos: um abajur decomposto pode virar uma flor ou carne; continua a teia. Cada partícula de átomo troca energia; uma rede tecida? Raciocínio é instinto? Se for, então animais e homem são uma coisa só, e a rede prevalece; senão, continua a ligação, pois donde é dito que os animais não alcançarão? Homem, romântico são os cegos da mente; desejam ser especiais, mas tal condição deprecia todo o Universo; tudo é especial?
Não, eu nego; eu sei o que é o real, eu vivo para comer a carne, meu medo é o não-hedonismo; sou a larva que devora a ti quando padeces; devoro a tua carcaça e encho minha boca dum sangue viscoso, escarro, entranhas - "boa carne, boa comida, bom deus, vamos comer!". Isso é real, tangível: o teu soldo é a minha refeição, te acorrento pelo destino: nesta terra, ficarás a cova onde descansará dum trabalho inútil - não, bem útil, amaciou minha deliciosa refeição. Chama-me de Lúcifer, senhor da luz, ou de Deus, o senhor anonimado, ou mesmo de medo, senhor Freud diz ser a peculiaridade dos traumas da humanidade, e que continuo a ser todos: sou o mito que criaste e que consumiu sua fé, suas esperanças, e deveras conheço o tangível, pois enche minha sede e torna-se real. Que gostosa realeza sou: abatem por mim e em mim viram filé.
Talvez eu saiba o que seja real; talvez não. Sou a História, sou o Homem que age criando as circunstâncias; como começou? Talvez eu saiba, talvez não, mas o fato é que sei como poderia terminar e, disso, se originar a realidade: que nada sabemos; se dissesse o contrário, olharia os rostos e já diria que todos os rostos são criaturas divinas, completamente independentes: isso faria na mente uma ilusão que consumiria minha carne, e de todos os meus semelhantes, inclusive aos ligados pela matéria. Não, a violência não é o caminho, a corrente da escravidão precisa ser rompida pelo auto-conhecimento; chega de arrogância ou humildade: sou o que sou! É preciso afirmar! A ignorância cria perigosas miragens, areias que dissovem multidões e exércitos embaixo de suas pesadas tempestades: conhece o terreno? És o terreno: consuma-te ou desperta-te. Sou a pirâmide e você quem a construiu: decrifra-me ou devoro-te.
Abrir os olhos; "mas o sono é uma delícia, e estarei pecando se disperdiçar tamanho manjar"; "enquanto adormeces, a cada segundo sua carne é minha"; "desperta ou não mais acordará; suas miragens se tornarão reais e serás sugados por elas - tragarás a ti mesmo, e levarás contigo toda humanidade".
Decida ou decidam, ó mônada(s)!
* Texto de 2003.
Il Sacrifitio: Uma redundância além de si*
Um rosto sorri; outro chora; outro encontra-se sereno e calmo; outrem, frio; ali, nervoso. Poderia citar n rostos, n olhares, que demonstrariam ações de dado momento que jamais poderiam ser analisadas em descompasso, em separado, sem que fosse um simplismo, exceto se a pessoa fosse monossilábica ou oxítona, hipótese rara mais digna de ser olhada e dissecada em seu mínimo detalhe; pessoas são geralmente paroxítonas ou proparoxítonas, pois revelam uma quantidade de dados talvez até frustrante a quem pensa deter sua crítica durante toda uma vida; e aqueles rostos, podem ser descritos como aqui e lá, e seu contrário, e tudo junto, o que parece uma tela cheia duma paradoxal frenesi a que chamamos de Universo - é isso, Einstein e/ou Freud? - ; mas continuamos humanos, não?
Sim, continuamos a caminhar perante isso ou aquilo que chamamos de humanidade; somos todos e eles nós, eu sou você e você eu, eu sou ninguém e ninguém são todos; peças de xadrez espalhadas alietoriamente, coisificação de seres rápida e eficaz pro grande abatedouro ou expressão de cada ente como criatura inter-ligada a realidade? Coisa é coisa; um abajur é uma coisa, o sol idem, a carne também, e todos provém a vida; o que faz justamente a vida humana ser mais especial que outras, se tudo é nada e vice-versa? Ainda: se só a carne pode ter independência, como fosse superior? Átomos são átomos: um abajur decomposto pode virar uma flor ou carne; continua a teia. Cada partícula de átomo troca energia; uma rede tecida? Raciocínio é instinto? Se for, então animais e homem são uma coisa só, e a rede prevalece; senão, continua a ligação, pois donde é dito que os animais não alcançarão? Homem, romântico são os cegos da mente; desejam ser especiais, mas tal condição deprecia todo o Universo; tudo é especial?
Não, eu nego; eu sei o que é o real, eu vivo para comer a carne, meu medo é o não-hedonismo; sou a larva que devora a ti quando padeces; devoro a tua carcaça e encho minha boca dum sangue viscoso, escarro, entranhas - "boa carne, boa comida, bom deus, vamos comer!". Isso é real, tangível: o teu soldo é a minha refeição, te acorrento pelo destino: nesta terra, ficarás a cova onde descansará dum trabalho inútil - não, bem útil, amaciou minha deliciosa refeição. Chama-me de Lúcifer, senhor da luz, ou de Deus, o senhor anonimado, ou mesmo de medo, senhor Freud diz ser a peculiaridade dos traumas da humanidade, e que continuo a ser todos: sou o mito que criaste e que consumiu sua fé, suas esperanças, e deveras conheço o tangível, pois enche minha sede e torna-se real. Que gostosa realeza sou: abatem por mim e em mim viram filé.
Talvez eu saiba o que seja real; talvez não. Sou a História, sou o Homem que age criando as circunstâncias; como começou? Talvez eu saiba, talvez não, mas o fato é que sei como poderia terminar e, disso, se originar a realidade: que nada sabemos; se dissesse o contrário, olharia os rostos e já diria que todos os rostos são criaturas divinas, completamente independentes: isso faria na mente uma ilusão que consumiria minha carne, e de todos os meus semelhantes, inclusive aos ligados pela matéria. Não, a violência não é o caminho, a corrente da escravidão precisa ser rompida pelo auto-conhecimento; chega de arrogância ou humildade: sou o que sou! É preciso afirmar! A ignorância cria perigosas miragens, areias que dissovem multidões e exércitos embaixo de suas pesadas tempestades: conhece o terreno? És o terreno: consuma-te ou desperta-te. Sou a pirâmide e você quem a construiu: decrifra-me ou devoro-te.
Abrir os olhos; "mas o sono é uma delícia, e estarei pecando se disperdiçar tamanho manjar"; "enquanto adormeces, a cada segundo sua carne é minha"; "desperta ou não mais acordará; suas miragens se tornarão reais e serás sugados por elas - tragarás a ti mesmo, e levarás contigo toda humanidade".
Decida ou decidam, ó mônada(s)!
* Texto de 2003.
Simplicidade
"A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não copiar sua aparência". (Aristóteles)
Não havia nehuma razão aparente para existir. Simplesmente existe. No entanto, todos desejam saber: por que existe? Todas as artes, ciências e filosofias se prestam a tal serviço. Como realizam? Ora, curiosamente criando universos para explicar o universo que já existe. Paradoxal? Embora paradoxos sempre sejam atraentes porque a complexidade nos atrai - e assim o é tanto que nossa estética sempre é movida nesse sentido: de hipnotizar o espectador, fazê-lo escravo de suas próprias propensões de ser induzido por outrem - , nem sempre o que é convencionalmente belo é assim categorizado. Vejam: o fogo, por exemplo, é algo belo. Suas cores são douradas e vermelhas, a forma como se movimenta é livre e sedutora como o vento - senão mais, porque o vento é incolor, sem alma e sem coração, embora nos transmita a sensação de liberdade que tanto aspiramos ao desejar voar - ; mas, apesar de tudo, o fogo destrói, ele queima e ceifa, é uma das várias facetas da Morte, aquela senhora que nos espera, sabe-se se namorando ou casada com Caronte, do outro lado do Aqueronte. Enfim, o fogo é uma contradição ambulante que nós, na condição de civilizados - que pintam e controem maravilhosas, mas ainda mata e deixa morrer seus semelhantes - , transformamos em instrumento de nossas "confortáveis" existências. E, curiosamente, somos iguais ao fogo: somos uma contradição e metamoforse ambulantes, numa deliciosa amizade, a muitos risos lá no Hades - juram alguns poltergeists por aí, sabe-se lá se mentindo ou não, e também alguns dotados das mesmas qualidades de Er - entre Heráclito de Éfeso e Raul Seixas: homo homini lupus que se matam virando bon sauvages.
Ora, o que isso tudo parece demonstrar? Caminhamos de contradições a paradoxos? Categorizar algo requer recordar o paradoxo do conhecimento: como alguém poderia dizer que sabe 99% de tudo se ele não chegou a esse tudo? Somente poderia saber que chegou a 99% de tudo se chegou a tudo, pois sabendo os 100% ele poderia comparar seu conhecimento de tudo com o 99% e finalmente chegar a conclusão real de que sabe 99% de tudo. No entanto, ele não pode classificar nenhuma porcentagem com segurança de tudo sem antes chegar ao absoluto do tudo. Logo, ele não pode dizer que chegou a 99% de tudo antes do absoluto do tudo. É tudo ou nada, amadas pessoas.
Sendo assim, Sócrates bem dizia: "só sei que nada sei". Todo nosso conhecimento é contraditório enquanto somente conhecimento; conhecimento e saber têm distinção. Aquele que sabe é porque detém a totalidade das informações sobre o todo; o conhecimento, por sua vez, é a percepção da realidade, e não necessariamente a compreensão do todo a respeito da mesma. Se alguém se confunde a tal respeito pode ter certeza que a maiêutica é impiedosa: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E desta vez não haverá cicuta - mesmo porque alguém já disse que a História se repete de duas formas: a primeira como uma farsa, a segunda como uma tragédia.
O verdadeiro artista é um cientista: ele tem empatia pela realidade e a transmite em seus escritos a forma bela como a realidade se dinamiza. Por isso a poesia, dizia um mestre grego, é a suprema ciência: enquanto a História visa compreender os homens, a poesia traduz a harmonia do universo. Ora, é o observador universal, contemporaneamente falando, assumindo o imperativo categórico.
Acordai, ó crianças, o dia está belo! O céu limpo que traduz novas aventuras e caminhadas! Embarquemos numa peripatética de novas observações!
Não procurem sentir as coisas pela imaginação, mas pelo que elas são: mesmo uma pedra merece justiça de ser reconhecida tal como ela se mostra. Sintam os pés caminhando as gramas verdejantes, e assim indo até o morro dos ventos uivantes. Cuidado com o cemitério maldito: ali imperam as superstições, os preconceitos e os mitos; é o nosso passado enquanto ignorantes; é o nosso museu enquanto buscamos conhecimento; é o Inferno onde, em seu portal, diz para abandonarmos toda esperança, pois criar expectativas nos cegam do que é concreto: é desejar no desespero, perdidos no deserto e vendo uma miragem, que aquilo seja verdade e levar a boca um gole de areia. Sim, terribles enfants!, sejam livres para experimentar; no entanto, já dizia um comediante - e prestai atenção a eles: todos os que enxergam contradições com humor merecem nossa atenção, pois trazem a nós tanto a potência de rirmos de nós mesmos como de voltarmos os olhos em todos os sentidos - : "Todos os fungos são comestíveis; alguns somente uma vez".
Quer compreender a tudo? Capture o infinito pois este, sendo absoluto, nada está além dele. É o grão de areia que sobrou de Fantasia! É a mão de Buda que o macaco jurou superar! A realidade é imanente, não transcendente. Se isso traz algum desapontamento, não se preocupe: podes transcendenter a ignorância e se fazer absoluto.
Postado por Val às 02:23
"A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não copiar sua aparência". (Aristóteles)
Não havia nehuma razão aparente para existir. Simplesmente existe. No entanto, todos desejam saber: por que existe? Todas as artes, ciências e filosofias se prestam a tal serviço. Como realizam? Ora, curiosamente criando universos para explicar o universo que já existe. Paradoxal? Embora paradoxos sempre sejam atraentes porque a complexidade nos atrai - e assim o é tanto que nossa estética sempre é movida nesse sentido: de hipnotizar o espectador, fazê-lo escravo de suas próprias propensões de ser induzido por outrem - , nem sempre o que é convencionalmente belo é assim categorizado. Vejam: o fogo, por exemplo, é algo belo. Suas cores são douradas e vermelhas, a forma como se movimenta é livre e sedutora como o vento - senão mais, porque o vento é incolor, sem alma e sem coração, embora nos transmita a sensação de liberdade que tanto aspiramos ao desejar voar - ; mas, apesar de tudo, o fogo destrói, ele queima e ceifa, é uma das várias facetas da Morte, aquela senhora que nos espera, sabe-se se namorando ou casada com Caronte, do outro lado do Aqueronte. Enfim, o fogo é uma contradição ambulante que nós, na condição de civilizados - que pintam e controem maravilhosas, mas ainda mata e deixa morrer seus semelhantes - , transformamos em instrumento de nossas "confortáveis" existências. E, curiosamente, somos iguais ao fogo: somos uma contradição e metamoforse ambulantes, numa deliciosa amizade, a muitos risos lá no Hades - juram alguns poltergeists por aí, sabe-se lá se mentindo ou não, e também alguns dotados das mesmas qualidades de Er - entre Heráclito de Éfeso e Raul Seixas: homo homini lupus que se matam virando bon sauvages.
Ora, o que isso tudo parece demonstrar? Caminhamos de contradições a paradoxos? Categorizar algo requer recordar o paradoxo do conhecimento: como alguém poderia dizer que sabe 99% de tudo se ele não chegou a esse tudo? Somente poderia saber que chegou a 99% de tudo se chegou a tudo, pois sabendo os 100% ele poderia comparar seu conhecimento de tudo com o 99% e finalmente chegar a conclusão real de que sabe 99% de tudo. No entanto, ele não pode classificar nenhuma porcentagem com segurança de tudo sem antes chegar ao absoluto do tudo. Logo, ele não pode dizer que chegou a 99% de tudo antes do absoluto do tudo. É tudo ou nada, amadas pessoas.
Sendo assim, Sócrates bem dizia: "só sei que nada sei". Todo nosso conhecimento é contraditório enquanto somente conhecimento; conhecimento e saber têm distinção. Aquele que sabe é porque detém a totalidade das informações sobre o todo; o conhecimento, por sua vez, é a percepção da realidade, e não necessariamente a compreensão do todo a respeito da mesma. Se alguém se confunde a tal respeito pode ter certeza que a maiêutica é impiedosa: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E desta vez não haverá cicuta - mesmo porque alguém já disse que a História se repete de duas formas: a primeira como uma farsa, a segunda como uma tragédia.
O verdadeiro artista é um cientista: ele tem empatia pela realidade e a transmite em seus escritos a forma bela como a realidade se dinamiza. Por isso a poesia, dizia um mestre grego, é a suprema ciência: enquanto a História visa compreender os homens, a poesia traduz a harmonia do universo. Ora, é o observador universal, contemporaneamente falando, assumindo o imperativo categórico.
Acordai, ó crianças, o dia está belo! O céu limpo que traduz novas aventuras e caminhadas! Embarquemos numa peripatética de novas observações!
Não procurem sentir as coisas pela imaginação, mas pelo que elas são: mesmo uma pedra merece justiça de ser reconhecida tal como ela se mostra. Sintam os pés caminhando as gramas verdejantes, e assim indo até o morro dos ventos uivantes. Cuidado com o cemitério maldito: ali imperam as superstições, os preconceitos e os mitos; é o nosso passado enquanto ignorantes; é o nosso museu enquanto buscamos conhecimento; é o Inferno onde, em seu portal, diz para abandonarmos toda esperança, pois criar expectativas nos cegam do que é concreto: é desejar no desespero, perdidos no deserto e vendo uma miragem, que aquilo seja verdade e levar a boca um gole de areia. Sim, terribles enfants!, sejam livres para experimentar; no entanto, já dizia um comediante - e prestai atenção a eles: todos os que enxergam contradições com humor merecem nossa atenção, pois trazem a nós tanto a potência de rirmos de nós mesmos como de voltarmos os olhos em todos os sentidos - : "Todos os fungos são comestíveis; alguns somente uma vez".
Quer compreender a tudo? Capture o infinito pois este, sendo absoluto, nada está além dele. É o grão de areia que sobrou de Fantasia! É a mão de Buda que o macaco jurou superar! A realidade é imanente, não transcendente. Se isso traz algum desapontamento, não se preocupe: podes transcendenter a ignorância e se fazer absoluto.
Postado por Val às 02:23
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