domingo, 1 de maio de 2022

Eu, ateu, e o meu deus

É engraçado, mas desde que comecei a trabalhar meus ressentimentos a fundo parece que perdi todo propósito de qualquer coisa. Os meus dias têm sido os mais preguiçosos, vadios, possíveis. Basicamente: não tenho vontade de fazer absolutamente nada, como se tudo fosse simplesmente vazio. Assim, o "nada" que eu tenho feito, fora dormir, é ficar assistindo alguns animes bobos ou revendo meus animes preferidos. Portanto, uma vida totalmente inútil. E quanto mais me pergunto o que estou fazendo aqui, mais me dá vontade simplesmente de dormir. Eu queria, nesse sentido, um lugar bem frio para poder sempre dormir com cobertor, bem quentinho, aconchegante, confortável, num todo bem fofo, deliciosamente aninhado e nunca mais acordar. Não quero me dedicar a nada: nem a sociedade, nem aos outros, nem a mim mesmo. Tudo antes era tão ridículo, e tudo ainda parece tão ridículo...


Como posso dizer? "Vaidade, tudo vaidade"? "Ego, tudo ego"? Se eu morresse dormindo, simplesmente apagasse, desmanchasse no ar, a minha existência seria simplesmente um nada, e provavelmente tudo estaria bem assim. Quando saio de casa eu me sinto constrangido, até medroso, em lidar com esse ridículo. Simplesmente ele não me diz nada, e por não dizer nada eu me sinto vazio. Dormir me diz algo: o silêncio me diz calma, o calor do cobertor me diz que está gostoso, e o fofo simplesmente me convida a me aninhar ainda mais e me sentir ainda mais feliz, confortável, abraçado, amado. Eu me amo quando estou bem comigo mesmo, quando me sinto bem comigo mesmo. Nada de esforços, sonhos, fantasias, vaidade, ego: tudo ridículo, vazio, angustiante. O que eu posso dizer, fazer, sentir, é só para mim mesmo, e o essencial disso é um retorno a uma existência plenamente radical: estar feliz comigo e apenas comigo mesmo. 


Se for fazer algo, seja ler, refletir, escrever, etc, só na medida em que me sentir bem e me fizer bem. Um passo de cada vez, e se eu estiver disposto, e um descanso de vez em quando, e tanto caminhando quando descansando curtindo o passeio. Que a minha vida seja análoga a alegria de estar na cama: relaxado, despreocupado, em paz, todo livre para viver o que quiser. Talvez o meu cobertor seja a poesia, a minha cama a filosofia, e meu colchão a ciência, e o frio lá fora seja a mais tranquila e serena existência dizendo: "Pode se deitar" - e eu pego meu cobertor e me aninho todo quentinho e feliz.

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