O que é o tesão?
Gostaria de poder escolher conscientemente meu caminho. Se for sentir tesão, que eu saiba o que é o tesão, o que me levou a sentir tesão ou se eu tenho a possibilidade de sentir tesão se e tão somente se eu eu compreender bem o que é o tesão, se o tesão é algo bom ou, melhor ainda, em que circunstâncias é bom sentir ou, melhor ainda, o que é desejar sentir tesão e, portanto, decidir quando e por quem sentir.
Em suma: eu quero realmente sentir que sou eu e nada mais que eu quem está caminhando a minha própria vida. Nada de atribuir a minha vida, os meus passos, minhas atitudes, a algo como "instinto", "necessidade", "subjetividade" ou mesmo "vício", "carência", "trauma".
Mais: eu ando bem desgostoso de conversar com pessoas, desse vazio blablablá, e diante disso ainda mais desinteressado, decepcionado, de conversar com uma garota com toda essa expectativa boba de encontrar nela uma pessoa interessante. É fato que de alguma forma alimento expectativas e isso não é algo bom ou ruim em si mesmo. E, no meu caso, gosto de que minhas expectativas também sejam, de certa forma, um filtro para poder não perder tempo com pessoas que não valem o esforço. É preciso aceitar as limitações das pessoas assim como as minhas próprias: as pessoas são livres para viverem como vivem e só elas podem decidir e mudar suas próprias vidas, assim como só eu posso decidir sobre a minha vida e unicamente sobre minha vida. Um diálogo serve para compreender as pessoas e estabelecer uma certa hierarquia nas relações, em graus entre o mais e o menos provável.
Ademais, o que eu busco numa garota? Ou ainda: o que me faz alimentar tal busca? Sendo que sou eu quem decido, eu mesmo tomo as decisões que me prejudicam, e paradoxalmente devido a um senso de recompensa que eu busco. Ser amado significa o prazer de ser amado, e como alguém que se infantiliza, alguém que se vitimiza, faz todo senso esse desespero em "ser amado". "Ser amado": alguma garota que me acolha, me proteja, me dê carinho e, principalmente, faça isso transando comigo. Pois transar é se entregar completamente a mim, significa ser minha, e sendo minha posso ter o completo prazer de tê-la para todo esse prazer de fazer com ela o que eu quiser. Eis o que meu eu atual busca, eis o que meu eu presente também buscava. A diferença é que antes era mais romântico, Idealista, e agora é mais do que nunca imediatista, rude, estúpido, grosseiro, horrível. Aliás, a própria noção de amor e mesmo de sexo, em nossa sociedade, é a de "querer" ser acolhido e de que isso se confirme e reconfirme ad infinitum, ad aeternum, pelo sexo. "Eu como ela toda hora, ela é minha, e ela sente o macho que a toma para si e se sente dele e vive para ele". Famílias autoritárias não dão amor aos filhos. Filhos crescem com a noção de que reconhecimento, amor, conquista, realização, tudo depende da força, da dominação, exploração, da capacidade de submeter, subjugar os outros. E transar é invadir o corpo das mulheres tal como quem se apropria de algo. E nesse jogo as mulheres mais reconhecidas, com mais valor de mercado, se tiverem um mínimo de percepção reconhecem seu preço e fazem todo um monte de medidas para que só os fortes as dominem. Pessoas de menor valor de mercado, seja homens ou mulheres, buscam se oferecer em desespero, muitas vezes com uma noção bastante errônea de seus próprios preços e do valor de troca que aqueles corresponderiam - e daí se tornam pessoas ressentidas que ou ficam se remoendo e fazem um jogo de total desistência e sempre culpando os outros e o sistema e tutti quanti ou os que apelam para valores monetários ou mesmo para a violência. É fato que a sociedade tem seu grau de responsabilidade: quanto mais autoritária mais competitiva e simbiótica. A responsabilidade central, que inclusive permite a sociedade ser e continuar desta forma, é das próprias pessoas: não se trata de fazer os ressentidos agirem como os outros e entrarem no jogo ou de alimentarem pseudo-soluções, e sim de aprenderem a amar a si mesmos. Nesse sentido, não é o outro quem deve oferecer carinho, e sim poder oferecer carinho a si mesmo. E se prende mais ao outro quanto menos desligado da vida, menos ou totalmente vazio de meta e disciplina, é: uma vida, por exemplo, sem objetivo algum é a do bebê que simplesmente fica a mercê de receber tudo dos pais, ou seja: a vítima completa. "A vida é ruim e nada do que eu fizer valerá a pena", e assim fica numa vida onde o único prazer que restou é o de ser assistido - como um rei, ditador, totalmente inútil. Mulheres não estão para homens assim como mulheres não estão para homens. Pessoas maduras, responsáveis, vivem para si mesmas: sabem que sempre foram e são livres e cultivam e usufruem de sua liberdade, por isso são e gostam de si mesmas. Prazeres imediatos são mecanismos de compensação, é o que sobrou para a "vítima". E quanto mais incapaz a pessoa se vê mais simplistas são suas soluções: busca desesperadamente tudo que seja "fácil", i.e., sem resistência alguma - tal como um rei, um ditador, buscam um cosmos totalmente obediente a ele. Fácil se ver como um "inútil" e continuar a ficar numa vida comodista, numa vida onde tudo deva servir a ele, um jardim de delícias onde tudo venha espontaneamente a boca - inclusive já devidamente mastigado, bastando o prazer do sabor (o mais intenso, gostoso, possível, melhor). Do prazer em comer bem ao prazer da masturbação e mesmo do sexo, se tiver poder, força, tudo que possa compensar a própria impotência, melhor: significa algum valor de troca (mesmo que seja a própria chantagem, manipulação, do outro). Se nem isso o impotente é capaz, então o nível de stress - mesmo que busque demonizar o outro como uma válvula de escape - , só aumenta até o nível do esgotamento ou mesmo da destruição da pessoa. Assim, não é o nível de valor social o que está em jogo, e sim a capacidade de uma vida independente. Se se torna refém das dinâmicas e estruturas sociais, autoritárias-simbióticas, acaba nessa paranóia e vício de ficar avaliando constantemente a própria imagem, como se sua vida dependesse disso - o que é completamente diferente de uma pessoa madura, cuja vida está de acordo não com imagens, e sim com atitudes e com sua própria realização a partir dessas atitudes (e daí retomo a velha questão: que vida eu quero viver? - ou ainda: o que significa esse "querer viver a vida"?, e assim retomando a pergunta anterior em toda sua potência).
Uma coisa eu sei: eu não quero uma vida vazia e, portanto, me maltratando através de uma eterna vitimização. A vida que eu quero viver é justamente onde eu me sinta cada vez mais eu, cada vez mais me realizando. Esse "eu" estou a descobrir quanto mais me desvencilho de um falso eu e quanto mais descubro minhas capacidades de agir conscientemente, de um agir que eu saiba realmente que sou eu quem deliberadamente está agindo e sendo. Uma arte de viver é uma arte de se descobrir e de se cuidar e se cultivar, com uma consciência cada vez maior de cada uma de suas células, seus átomos, neurônios, etc, enfim, de todo um estudo que consiga estabelecer a própria consciência de si e para si. Portanto, estou a descobrir que poesia define minha própria identidade, que sinta a integração de mim para comigo mesmo - e daí estar trabalhando na minha própria noção do que seja o belo, do que seja a estética, do que faz eu me sentir vivo - em suma: eu sou o caminho que decidi caminhar, eu sou a linha que decidi escrever.
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