quarta-feira, 9 de março de 2022

Situação atual, passado e indefinição

Nessas horas seria bom estar com uma namorada.

Uma parte de mim quer caminhar, pedalar, agora, e outra parte de mim quer ficar em casa, quer deitar na cama e ficar relaxando.

Mas.

Tivesse uma namorada.

Ela poderia me puxar para caminhar com ela.

Caminharíamos e conversaríamos.

Ou ficaríamos em silêncio e caminhando.

De qualquer forma, seria muito bom.

No meu estado atual, é como se eu só tivesse disposição para ficar no meu canto.


Tá.

Vou tentar ver se pedalo um pouco.

Senão só vou conseguir ficar deitado em posição fetal querendo sentir algo de mim no caso mais drástico de zona de conforto, como se, ao ficar em tal posição, eu só pudesse ficar me acolhendo, como um criança carente de afeto.

Quando adolescente ficava ansioso querendo jogar vôlei, futebol, basquete, o que seja.

Ia até o terraço de casa para olhar, a noite, se a luz da quadra dos mórmons estava ligada.

E, claro, ia se estava acesa.

E me sentia contente gastando a minha energia.

E melhor ainda se ganhasse.

Agora...

Agora sou só eu.

Nenhum jogo, nenhuma diversão.

Nada para se vencer ou perder.

Para me sentir desafiado.

Para que eu precisava de desafio?

Para confirmar minhas capacidades?

Para confirmar inclusive que eu podia mais do que os outros, e portanto me sentir mais seguro de mim?

"Ninguém pode comigo, ninguém pode me vencer, ninguém pode me ameaçar"?

Uma vez fiquei extremamente orgulhoso.

Quando alguém me elogiou jogando futebol.

Que eu enfrentei na raça todos os adversários.

E ganhei.

Eu me senti invencível.

Com pleno gosto pela minha força.

Minha potência.

Minha capacidade de ser.

Para onde foi tudo isso?

Só posso sentir isso sendo desafiado?

Não posso saborear a vida por livre e espontânea vontade?

Sem precisar vencer?

E desenhando?

Eu também queria ser o melhor.

O melhor projetista.

Para saborear o meu sonho.

E ninguém me tirar dele.

Sonhos.

Vitórias e derrotas.

É assim tão banal?

Precisar sempre vencer?

Sempre com e contra um outro?

"Podem tentar me derrubar, mas eu sempre vou vencer?"

E daí vem a questão: para que alguém tentaria me derrubar? Para que pessoas tentam derrubar umas as outras? Para que faziam bullying comigo? 

E eu me sentia um herói: eu queria me sentir o mais forte, o mais capaz, o mais inteligente.

E eu vendia essa imagem.

Provocando e cultivando e recebendo provocações.

Projetar no outro "O Inimigo".

A minha vingança.

Contra todas as hierarquias.

Para eu estar no alto.

E ser O Modelo.

O Bom.

O Bom que todos tentaram sufocar, matar, destruir.

O Bom mais capaz, mais sensível, com todo senso de justiça.

Vencer era justiça.

Vingança.

Ressentimento e vitória.

Ressentimento e inimigo.

Ressentimento e o prazer de fazer o outro se sentir incapaz, de eu ser invencível, de tudo que tentassem contra mim estar fadado ao fracasso.

Daí toda ansiedade.

Daí todo conflito e busca de conflito.

De confronto.

Bater de frente.

"Se os outros podem, por que eu não?"

Curtir a vida.

Sem vitórias ou derrotas.

Sem a grande figura do Outro.

Do Inimigo.

Apenas a minha própria companhia.

E também.

Sem a grande figura da Vítima.

E do "Amor", da garota me protegendo e dando afeto, compadecida de mim como O Coitado.

Bate e se sente O Tal.

Apanha e chora pro colo da Mãe.

Será que viver é só isso?

Nenhum comentário:

Postar um comentário