Estar de sobrevoo, como se tudo fosse um sonho, não é algo ruim em si. É uma completa sensação de vazio, nada como um sonho ou um pesadelo - e portanto palavras como "surreal" ou "dada" são simplesmente fantasias, romantizações, conceitos que não devem ser usados nem como licença poética.
O problema, de fato, é quando se sai desse sobrevoo, quando se aterriza, mesmo que momentaneamente, no mundo, no real. Existe daí um enorme, senão total, descompasso entre esse e aquele, e consequentemente se sente, de uma vez, impiedosamente todo o peso do vazio, aquela dificuldade de se pisar no chão, de reconhecer que o vazio nada permite ali e que o próprio sobrevoo é uma ilusão - talvez protetora, mas só na aparência: surge sempre as fronteiras, formas, indefinidas do vazio, como uma camisa de força que nada enche e nem permite reconhecer que está cheio: insensibiliza e mata - o corpo, a mente, e finalmente o eu. Não era um sonho e nem um pesadelo: era simplesmente a própria realidade do sujeito em sua mais derradeira simbiose: se afundar de vez para nada enfrentar.
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