O intelectual, o espaço e o tempo
Ou sobre como aplicar a teoria da relatividade a humanidade
O que é o intelectual? Podemos começar pela imagem mais convencional: um ser que passa praticamente a totalidade do seu tempo (senão todo ele) enfiado em livros; ele respira, come, caga, transa livros. E, no final, ele mesmo vira um livro para outros intelectuais realizarem o mesmo. Uma vida platônica.
Esses são todos os intelectuais? Alguns, se pudessem, gostariam de se transformar em luz e ultrapassar o limite humano; no entanto, continuaria existindo o sentimento e a emoção que tanto caracteriza a arte da descoberta, aquele lado criança que procura desvendar os mistérios (ou mesmo realizar alguns) para entrar naquele êxtase de maravilhamento?
Talvez esse fosse o dilema de um Kant: como atuar no sentido de um dever-ser, de incorporar todas as leis da natureza (observador universal) de forma a ser harmonioso com elas (imperativo categórico), e ao mesmo tempo continuar sendo humano, i.e., de poder rir e chorar, se apaixonar ou mesmo amar...
No entanto, nem o cérebro do grande pensador alemão aguentou: de tanto investigar a razão pura acabou puramente sem razão - Alzheimer.
É bom ser um ser humano e ora estar um intelectual, ora estar um amigo, ora estar um apaixonado. Viver o nosso próprio tempo sem confundir tempo com espaço. Não é preciso fazer pactos com Mefistófeles, já basta o pobre Fausto.
Talvez assim ainda possamos ver que o rio corre sozinho e brincar todos juntos, ou mesmo estar namorando, junto as suas margens, respirando o ar da natureza e deixando que nos amemos.
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