Deste Modo Ou Daquele Modo
Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma cousa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma cousa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.
Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.
Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.
Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos.
(Alberto Caeiro)
quinta-feira, 23 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Divagações
"Soubesse eu rir e chorar, soubesse eu sentir, eu poderia saber como ouvir e falar, eu poderia compreender o drama humano e o próprio ser humano"
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"O trabalho que realmente me faria sentir bem seria aquele onde pudesse trabalhar tanto a minha individualidade (e portanto minha capacidade de ser pleno de mim mesmo, e assim me amar) como a minha humanidade (e assim poder aprender e saber como ouvir e falar com o outro, sentir e se emocionar com o outro; poderia finalmente amar o outro e me sentir bem com o outro)"
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"Amar é também paixão. Paixão não é amor"
"Soubesse eu rir e chorar, soubesse eu sentir, eu poderia saber como ouvir e falar, eu poderia compreender o drama humano e o próprio ser humano"
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"O trabalho que realmente me faria sentir bem seria aquele onde pudesse trabalhar tanto a minha individualidade (e portanto minha capacidade de ser pleno de mim mesmo, e assim me amar) como a minha humanidade (e assim poder aprender e saber como ouvir e falar com o outro, sentir e se emocionar com o outro; poderia finalmente amar o outro e me sentir bem com o outro)"
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"Amar é também paixão. Paixão não é amor"
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